PARA UMA GERAÇÃO À RASCA
É verdade que Portugal está saturado de licenciados e doutorados sem emprego, tenho um sobrinho já doutorado em Arqueologia com apenas 27 anos que teve que emigrar pois aqui não há trabalho.Por outro lado, apesar de parecer hoje politica e culturalmente incorrecto apetece-me repetir a frase de Jesus dita há dois mil anos mas válida para todas as gerações, portanto também para a geração à rasca: a Messe é grande e os trabalhadores são poucos (LUCAS 10, 2)
Se a Missão e o Reino de Deus precisam de mão-de-obra especializada e esta parece abundar, porque é que continuam a ser poucos os que optam por esta actividade? É Deus que não chama ou o pessoal não se dá por aludido e fazem os ouvidos surdos porque têm outros interesses?
Jesus saiu diversas vezes a recrutar mais trabalhadores para a sua vinha entre os que estavam na praça à rasca por um emprego; estava tão desesperado por conseguir gente que se obrigou a pagar o mesmo àqueles que trabalhassem nem que fosse uma hora (MATEUS 20, 1-16)
O trabalho missionário de levar o evangelho a toda a criatura tem as suas vantagens:
• Oferece-te um emprego “full time” sem a precariedade dos contratos a prazo. Talvez seja por natureza um trabalho de colarinho branco pelo que a licenciatura de Bolonha é insuficiente mas que é melhor executado com o colarinho azul e mangas arregaçadas.
• Não é um trabalho “sem remuneração” pois o evangelho garante que se buscares primeiro o Reino do Céu e a sua justiça tudo o mais te será dado por acréscimo (Cf. MATEUS 6,33), e nem o “carro” tens que “pagar”.
• Finalmente podes deixar a “casinha dos pais” pois quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna. (MARCOS 10,29-30).
Por outro lado quem ama o pai e a mãe mais do que a mim não é digno de mim (MATEUS 10, 37).
• Não tens que continuar a adiar “filhos marido ou mulher” podes trocar a paternidade biológica pela paternidade espiritual; Madre Teresa de Calcutá não teve filhos e ninguém lhe negaria o título de madre. (MATEUS 19, 12).
E em vez de marido ou mulher, podes irmanar-te com todos os homens e todas as mulheres e a criação em geral como São Francisco de Assis.
Os que se têm por sábios neste mundo podem considerar-te uma “parva” ou um parvo mas Deus escolheu os que são parvos e os fracos aos olhos do mundo para confundir os sábios e os fortes (Cf. LUCAS 10,21 e 1ª CORÍNTIOS 1,27)
• Sim e para ser “escravo” é mesmo preciso estudar; entendo, respeito e comparto o sentido profundo e o contexto social de donde surge esta frase de protesta perfeitamente legitima. Com o risco a sair fora do contexto, atrevo-me a dizer que não houve no mundo pessoa mais “qualificada” que Cristo e no entanto Ele entendeu a sua vida como serviço:
“Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus:
Ele, que é de condição divina, (…) esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de escravo (…) rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. (FILIPENSES 2, 5-8)
P. Jorge Amaro, IMC
Sem comentários:
Enviar um comentário