sexta-feira, 13 de julho de 2012

Grupos de Jovens e Missão na Europa (Parte I)


O futuro dos grupos de jovens na Igreja não pode ser desligado das mudanças que ocorreram ao longo das últimas décadas na religiosidade das sociedades ocidentais. Destas mudanças, podemos destacar o facto de os países europeus terem assistido a um decréscimo acentuado de vocações (sacerdotais ou de vida consagrada), em conjunto com uma perda crescente de importância da religião para a vida das pessoas. Diz-se frequentemente que a Europa deixou de ser um terreno de exportação de missionários para passar a necessitar de importar sacerdotes de outras paragens onde a fé cristã continua em crescimento.
Esta evolução do panorama religioso na Europa não é desligada de uma série de outras evoluções que aconteceram ao longo das últimas décadas, senão séculos, e a Igreja sabe disto, embora dentro da Igreja Católica (IC) existam diversas interpretações sobre o que correu mal e consequentemente, sobre o que fazer para resolver os problemas. Não é portanto possível ter opinião sobre este assunto sem uma vinculação, mais ou menos formal a um dos lados do debate.


A missão na Europa não poderá ser feita recorrendo aos mesmos métodos que até agora foram sendo usados nos outros continentes. Aliás, métodos esses que já diferiam conforme as culturas onde se inseriam os missionários (é certamente muito diferente a missão na África do Sul, nas florestas do Roraima ou numa cidade da Coreia do Sul). Assim, também a missão terá de ser diferente na Europa, com especial atenção a alguns pontos que diferenciam este continente dos demais: Em primeiro lugar, a Europa não é um continente que não conhece a mensagem cristã. Em princípio conhece-a e, por alguma razão, segue uma tendência para a abandonar. Em segundo lugar, as questões sociais em que normalmente os missionários se empenham têm particularidades relevadas pela cultura e pelas relações sociais. O individualismo prevalecente torna a ação solidária diferente e mais difícil. Os pobres são mais difíceis de reconhecer e podem até viver inseridos na sociedade sem que ninguém note a sua condição. Como reconhecer e confrontar estes problemas? Em terceiro lugar, se o critério da pobreza fosse o único a ter em conta, rapidamente chegaríamos à conclusão que a Europa continua claramente numa melhor situação que os outros continentes. No entanto, reconhecemos rapidamente que há algo a correr mal com as sociedades europeias (e ocidentais) que não encontramos com tanta acutilância noutros pontos do globo. Por exemplo, o crescente consumo de antidepressivos, o aumento do número de suicídios, em países ou entre trabalhadores de empresas específicas (o caso mais célebre é o da France Telecom). No fundo, o problema de as pessoas não encontrarem saídas para os seus problemas e da sociedade como um todo não encontrar soluções para as suas próprias contradições. No fundo, podemos resumir referindo que o problema da Europa não é um problema de desenvolvimento económico.

Assim, torna-se necessário reinventar a missão de forma a atuar nos países europeus. Começo por deixar alguns apontamentos. Não sendo a mensagem cristã desconhecida dos europeus, importa compreender porque está esta mensagem a ser abandonada. A crença de quem acredita ainda nesta mensagem deve materializar-se na sua vivência, na prova de que é uma mensagem válida para todas as pessoas. Segundo, a atuação junto dos problemas sociais precisa de mais do que a ajuda caritativa a indivíduos necessitados. A Igreja deve empenhar-se ativamente no espírito crítico, na identificação dos problemas, na procura de alternativas. Para tal, necessita de um maior cultivo do conhecimento intelectual nas mais diversas áreas, com especial relevância, neste momento concreto, para a Economia ou a Sociologia. Compreender a crise e os seus processos é muito diferente de referir que “tudo se trata de uma crise de valores” numa espécie de revivalismo dos tempos onde a Igreja dominava moralmente a sociedade portuguesa, sabendo hoje que tal domínio nem por isso possa ser considerado, de todo, positivo.

Resumindo, a missão na Europa deve assentar numa atuação menos dogmática e mais pragmática da Igreja, ao mesmo tempo que crítica e conhecedora da realidade. Na prática, traduzir-se-ia em tomadas de posição da Igreja em matérias de política económica sem perder a independência do poder político ou económico (na linha do que tem feito a Comissão Nacional Justiça e Paz). Promoção do conhecimento junto de jovens e adultos sobre os problemas sociais que afetam o país, por exemplo, através de conferências, colóquios, debates alargados, procura de opiniões diferente e contraditórias, novos meios de informação, etc…. As questões espirituais, não devendo ser esquecidas, devem perder importância relativa, com os grupos de oração a poderem dar lugar a grupos de debate e as missas a tornarem-se locais de cultivo social ao mesmo tempo que espiritual. As paróquias devem ter atenção à cultura de forma a contribuir para a união da comunidade e também ser criativas na atuação de proximidade junto daqueles que necessitam. Esta criatividade exige uma maior colegialidade nas decisões das paróquias, devendo o pároco consultar a população para uma atuação organizada e eficaz.

Estes pontos são apenas algumas ideias que me parecem importantes para uma reflexão, que é neste momento urgente, sobre a atuação da Igreja no atual momento da sociedade europeia e ocidental. No entanto, “esqueci-me” propositadamente de falar nos Grupos de Jovens. Qual será a importância destes nesta missão?

(continua)
Tiago Santos, jmc

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