No recolhimento das suas orações, Rui Ferreira, 31 anos, tinha por hábito colocar-se nas mãos de Deus, para que fosse feita a sua vontade. Com uma única condição: que não lhe pedisse para ser padre. Hoje, ri-se deste monólogo com o divino. Afinal, foi mesmo esse o caminho que Deus lhe apontou. Já começou a trilhá-lo e a convicção com que o fez é facilmente corroborada pelo discurso teológico, pelo brilho dos olhos, pelas palavras entusiasmadas que debita em catadupa quando se fala de missionários e de missões.
Nascido e criado em Torres Vedras, mais concretamente na paróquia Nossa Senhora do Amparo, Rui passou pela juventude como qualquer adolescente do seu tempo. Praticou desporto, saiu com amigos e amigas, foi a festas e, não o nega, cometeu «um ou outro excesso». No final do secundário, entrou no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa, e concluiu a licenciatura em psicologia social das organizações, sem grandes sobressaltos.
A grande mudança aconteceu na fase final do curso. Enquanto alguns jovens da sua idade trocavam «a transcendência pela alienação» e mergulhavam «nas drogas e noutros vícios», Rui aprofundava a introspeção. Sempre teve «grande ânsia de saber de onde vimos, para onde vamos» e, sobretudo, «qual é o sentido da vida». As respostas às inquietações encontrou-as no acaso da vida. Numa perspetiva puramente terrena, foi toda uma série de acontecimentos e convites aos quais nunca disse que não que o conduziram à epifania. Na sua perspetiva está claro agora que era esse o plano que Deus lhe tinha traçado.
Igreja jovem e dinâmica
«Foi um encontro muito forte que Deus fez comigo, na pessoa de Jesus Cristo. E quando o encontramos, quando recebemos esse amor, quando nos sentimos amados dessa forma, não podemos guardar esse amor só para nós. Não tornaremos a ser iguais», afirmou o seminarista da Sociedade Missionária da Boa Nova à FÁTIMA MISSIONÁRIA. O encontro de que fala Rui Ferreira é, simplificando, uma espécie de metáfora que resulta da experiência entre os dois cursos que fez em Fátima – de cristandade e missiologia -, a profunda devoção por Nossa Senhora e a enorme crença na intervenção do Espírito Santo.
Quando hoje se transmite a visão de «uma Igreja envelhecida» em Portugal e na Europa, Rui foi surpreendido com o que descobriu nas ações de formação: «Vi uma Igreja jovem, com face e mãos abertas, tanto para receber de Deus, mas principalmente para dar. Encontrei uma Igreja dinâmica e verdadeiramente católica, porque é realmente universal». E porque se trata de universalidade, a via mais lógica foi entrar para uma congregação missionária. «Seria mais fácil ser sacerdote na minha diocese, mas não foi isso que fizeram os apóstolos e os sucessores dos apóstolos. Nós temos que fazer Igreja onde quer que Deus nos peça», esclareceu.
Há quase três anos no seminário, já fez metade do curso de teologia. Interrompeu-o para frequentar uma formação espiritual e missionária, após o que fará um juramento temporário de consagração à atividade missionária. Moçambique será o destino posterior, para um estágio intermédio de preparação. Enquanto não chega o momento da partida para terras africanas, o jovem seminarista vai reforçando a fé: «O encontro com Deus é transformador. Recebendo esse amor, temos que o dar. Deus tem um plano para nós, muito mais belo do que qualquer plano que possamos fazer. E como Deus é dom só temos que descobri-lo e deixá-lo entrar no coração. Não se evangelizam territórios mas de coração a coração».
Texto e foto: Francisco Pedro, FM
SABER MAIS: Curso de Missiologia
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