segunda-feira, 30 de abril de 2012

«Não fazer nada também é acção»


Penso que nunca houve ninguém que não tivesse falado dos intitulados “vagabundos”. Algumas pessoas reflectem-nos como “os coitados”, outras como os “drogados” e outras como os “desavergonhados e parasitas da sociedade”. Pois, também penso que são poucos os que OS olham como pessoas que necessitam de afecto e de todas as outras “mordomias” que eu gosto de intitular como “Pack lar”. Recentemente, estava numa sala de espera de um hospital e apareceu um sem-abrigo a pedir “uma esmola” a quem lá estivesse. Acreditem que a sala de espera era enorme, contudo ninguém lhe dirigiu palavra alguma. Dei comigo a pensar: Porque será que sinto tanto incomodo quando estas pessoas aparecem a pedir esmola? E o que poderei eu fazer para as ajudar sem abalar negativamente o mundo pessoal destas pessoas?

Sempre olhei para estas pessoas como um baú de riqueza a ser aproveitada, mas que constantemente é posta de lado. Enquanto me questionava observei este sem-abrigo a interpelar as outras pessoas. Via-se expressões de nojo, indiferença, medo, indignação e desprezo. Vi então uma sociedade, representada naquela pequena percentagem de seres humanos, que só vê o seu próprio umbigo e que vive a vida com as palas viradas apenas para o “EU”. Vivência que não terá sentido se virmos o Ser Humano como um ser incapaz de viver sozinho, ou seja, um Ser Social.

Segundo a Bíblia somos todos irmãos. Mas então porque é que todos competem a todo o custo para serem superiores uns aos outros? Acredito que Deus nos enviou ao mundo para evoluirmos espiritualmente. Contudo a única coisa que vejo é a guerra social. Onde as pessoas têm máscaras, têm medo de sentir, têm medo de arriscar, têm medo de se comprometer, têm medo de serem felizes e de descobrirem a própria essência. Tudo o que é natural é camuflado por necessidades sociais falsas, tal como a necessidade de ser “famoso” perante todos. No entanto, Allamano refere que “o Bem deverá ser bem feito e sem barulho”. Se realmente fizermos uma retrospectiva da nossa vida verificamos que frases como estas, são apenas frases bonitas que têm impacto durante 5-10 minutos na nossa vida. Atiramos a responsabilidade para o “outro” como se fosse o jogo da batata quente e esquecemos que todos somos chamados à missão.

Quem me conhece sem a referida máscara, sabe que me sinto realmente afectada quando me deparo com estas pessoas. De tal forma afectada que evito passar por locais onde encontre sem-abrigo. Pelo menos, depois de toda esta reflexão cheguei a uma conclusão: Sinto-me afectada porque me incutiram desde muito cedo que estas pessoas são autênticas preguiças humanas, que nos podem magoar fisicamente ou então magoar emocionalmente com as suas mentiras. Ou seja, sinto o medo de ser enganada e de me chamarem ingénua, sinto o medo de não fazer o que está correcto. E o mais assustador é que o “não fazer nada” (que foi o caso) também é acção que pode ou não afectar. Regemos a nossa vida em função do medo, o nosso amigo imaginário mais próximo!

Ana Marinho

N.R.: Muito obrigado Ana Marinho pelo envio desta tua reflexão.

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