terça-feira, 22 de setembro de 2009

Praxes: sim ou não? (actualizado)


O reinício do ano escolar inspira-nos o inquérito desta semana. Muitos dos leitores do CJovem entram este ano para a Universidade. Parabéns! Depois das surpresas das colocações e tudo o que vem a seguir, há uma espécie de ‘baptismo’ ou ‘ritual de iniciação’ a que ninguém parece escapar. São os rituais próprios da entrada no mundo académico. Falamos das praxes: um conjunto amplo de tradições, usos e costumes que se praticam e repetem ao longo dos anos, sobretudo no foro universitário. Diz-se que é para integrar o caloiro, ainda que esta ideia não seja consensual.

A praxe, como tal, já não é assunto tabu. Há os que são a favor, os que são contra e os que optam pelo nim. Todos os anos este tema tem sido fonte de contestação e polémica, sobretudo por abusos que, em alguns casos, até tem chegado aos tribunais. Ficou famoso o caso de uma estudante de Santarém que tendo sido coberta com excrementos depois de se ter declarado anti-praxe, recorreu aos tribunais e os praxistas foram punidos com uma multa, naquele que foi o primeiro julgamento relacionado com abusos de praxe.

Existe, hoje, em alguns círculos académicos, uma forte contestação à praxe e até mesmo movimentos organizados que a contestam. Estes consideram que existe, de forma quase sistemática, uma tendência para a coacção do caloiro, sob pena de represálias de vária ordem ou de marginalização do meio estudantil, o que não condiz com o espírito académico.

O ‘português suave’ considera que, enquadradas nas praxes, se fazem por vezes actividades e jogos que promovem uma verdadeira integração, desenrolando-se de forma responsável, criativa e divertida, ainda que nem sempre estas se apresentam como a melhor maneira de acolher os novos alunos.

Os maiores defensores apoiam-se, sobretudo, nas tradições académicas para justificar a sua existência. É que, associado à praxe académica, está o mote ‘Dura Praxis, Sed Praxis’ - a praxe é dura, mas é praxe!

Este é o inquérito que submetemos à vossa apreciação durante esta semana. Faz aqui o teu comentário, fala da tua experiência, do que vês, do que pensas. Opina. Praxes: sim ou não? Como? Quais os limites? Vota e comenta.

[Resultados]
Início das aulas. No âmbito académico está aberta a 'época de caça' ao caloiro.
O que são as praxes para ti?


Uma forma necessária de integração do caloiro 33% (8 votos)
Uma tradição a manter 33% (8 votos)
Resquícios da Idade Média 25% (6 votos)
Uma tradição a erradicar 8% (2 votos)

Votos apurados: 24


A. Brás

16 comentários:

  1. eu acho que praxes sim, mas com conta, peso e medida....
    não é preciso abusar....divertindo-se e praxando à mesma...
    nunca fui caloira, nem tão pouco praxada, mas sabemos atraves dos media, que ha praxes que são tudo menos brincadeira....
    como em tudo, ha que saber quais os limites...

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  2. Eu acho que praxes sim... mas claro com os seus limites.... Eu fui caloira e foi praxada, e acho que houve praxes bastantes divertidas e outras menos divertidas, e as que achei MESMO menos divertidas não fiz e eles aceitaram, claro que no fundo ainda ouvi algumas bocas por nao estar a fazer, mas acho que há limites e há que não ir contra os principios de cada pessoa, e se vivemos num mundo de direitos e deveres, acho que eu tive o direito de decidir que não queria aquilo e eles o dever de saber aceitar e respeitar.

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  3. Praxes humilhantes em que o sentido é exclusivamente o divertimento dos "doutores" devem ser erradicadas. Mas penso que o caloiro pode e deve ser acolhido com algo que ele tambem se divirta. Tudo depende do bom senso de cada um...

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  4. Aceito que, de ano para ano, comece a haver cada vez mais bom-senso neste tema. Contudo, o que mais me custa aceitar é que as praxes sejam usadas como instrumento de poder e, sobretudo, de humilhação. É triste que tantos alunos logo ao entrar na Universidade se sintam intimidados por aqueles que os deveriam acolher e que, bem pelo contrário, se aproveitam da sua inocência e da sua ingenuidade com relação ao meio académico.
    Nando

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  5. bem, na verdade so vai a praxe quem quer ir, so participa nas acividades quem quer. Ja fui praxada e nao gostei apartir dess momento deixei d ir as praxes convocadas na minha faculdade por discordar imenso do modo como eram feitas, no entanto nunca m declarei anti-praxe ate porque nao sou contra, simplesmente consegui contornar certos aspectos q nao m agradavam e nc fui "excluida" por isso. na minha opiniao so se deixa humilhar quem quer. Praxe sim mas com uma cara renovada e deixando ate certo ponto alguma da sua perspectiva mais tradicionalista.

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  6. Bem, ainda nao posso falar da minha experiencia porque a minha praxe so começa segunda... Contudo pelo que ja fui vendo na minha faculdade e pelo que me contam, parece-me que a praxe pode ser algo muito positivo, tal como mt negativo... está a cargo de cada um incentivar aquilo que de facto faz com que o caloiro se sinta integrado e bem acolhido e criticar/renunciar aquilo que só serve de humilhação... É esta a postura que penso tomar a partir de segunda feira... Confesso que estou bastante entusiamada pois parece-me que a praxe me vai ajudar a conhecer e integrar-me num meio que me é novidade!

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  7. Praxe SIM!!! Mas bem feita, de forma a integrar o caloiro no novo ambiente e a entusiama-lo para a nova etapa: o ensino superior!

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  8. fui caloira, fui praxada...na primeira semana xorei que nem uma perdida..mas foi de medo porque no secundario contavam cada coisa sobre as praxes que só o nome metia medo...
    para mim a praxe foi uma forma de integraçao, de conhecer pessoas e nao andar sozinha num ambiente que n conhecia...a faculdade!

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  9. Praxe NUNCA MAIS. Rio-me quando falam de praxe bem feita. Passamos a vida a ouvir falar de tradição, e o que temos de saber é que a praxe sempre foi humilhação, a tradição é humilhar, e dantes a iniciação era feita a pontapé e ao escarro nos caloiros. A praxe é humilhação por definição...não há praxe boa, se for boa, simplesmente não é praxe...

    Além disso, a praxe é apenas um mecanismo social tradicionalista e conservador com um intuito claro, o de tornar todos, repito TODOS, iguais, sem identidade, sem pensamento crítico, todos como ovelhas de um rebanho de ignorância e de conformismo e de mediocridade...

    Nunca me declarei anti-praxe, fui praxado, mas nunca praxei...mas sou absolutamente contra a praxe, contra a sua natureza e contra os seus princípios, como cristão, JMC e cidadão deste país e do mundo,eu digo NÃO à humilhação e digo NÃO à praxe...

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  10. @Tiago Santos:
    Eu também não sou adepto de praxes mas tens uma ideia um pouco distorcida do que é a praxe (talvez por culpa de quem te praxou). Se consultares um código de praxe de qualquer universidade vês que o intuito é o de integrar o aluno recém chegado no meio académico e existem códigos de praxe muito específicos em relação aos abusos. Na prática, porém, há quem abuse. Se por um lado concordo com a tua revolta, por outro, acho que não deves por os ovos todos dentro do mesmo cesto. No final de contas, a praxe é (deve ser) saudável ao ambiente académico.

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  11. Caro Olly, a minha critica à praxe não é devida a praxes ou praxistas maus que tenha encontrado. As minhas praxes até nem foram muito más. É antes contra a concepção em si. O objectivo sempre foi a integração mas eu acho a integração medíocre e na mediocridade, por isso é que grande parte dos caloiros gosta de ser praxado, porque é cool beber até cair, ser gozado, humilhado quando já se está bebado e etc...

    Queriam integração? Levem os caloiros a seminários de investigação, a conferências, a debates, se não há debates criem-nos, se não há cultura façam-na, teatro de rua, música e tudo mais que em tempos os estudantes faziam. Honrem a crise de 69, em que os estudantes se uniram, também na abolição da praxe.

    No fim de tudo perguntamo-nos porque é que os jovens parecem não ter ideais, serem conformistas, amorfos, não terem qualquer sentido crítico nem interesse pela política nem pela sociedade...e eu rio-me, rio-me muito, dentro da minha profunda ignorância de jovem que sofre os mesmos chamamentos, os mesmos vícios e os mesmos traumas. Encharquem-nos com Morangos com Açucar e com praxes e depois venham falar-nos em luta contra a injustiça e contra a pobreza no meio desta sociedade e deste mundo pornograficamente absurdos.

    Desta Coimbra e destas Universidades dificilmente sairão novos Anteros de Quentais e Eças de Queiróz. Fomos tomados pela sociedade do rebanho, que tem na praxe um dos seus expoentes máximos...

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  12. Mas isso é o que tenho estado a dizer há anos. Cada vez mais somos um rebanho a mando de quem quer que seja. A estupidificação das massas (já dizia Gianni Vattimo) é a nova arma dos tempos modernos. Se se formarem analfabetos ninguém terá conhecimento suficiente nem vontade para se insurgir. Porque pensas que a TVI é quem tem maior audiência (apesar de todos afirmarmos que a programação está abaixo de lixo)? Porque pensas que todos os alunos da primária estão equipados com um "Magallanes" ou que os professores são "obrigados" a passar toda a gente até ao 12º ano? Se cortarmos desde o início, o hábito de raciocinar, de criar as ligações necessárias ao cérebro para se desenvolver, teremos, daqui a poucos anos, um rebanho dócil e obediente que acatará todas as decisões de um governo (ou de quem quer que seja) sem reclamar.

    O exemplo mais grave disso é o facto de, há uns tempos atrás terem ido para a rua, em manif, mais de 160 mil professores. Se fosse em qualquer país da Europa o governo teria caído no próprio dia, aqui em Portugal já ninguém se lembra disso, pior, ainda estão todos contra os professores que deviam estar a ensinar em vez de andar a reivindicar os seus direitos.

    É caso para dizer: Béeééé

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  13. No entanto, se dizemos isso em voz alta somos catalogados de reaccionários, de malucos e mandam-nos logo calar.
    (Vais ver os comments a cair que nem tordos)

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  14. Tiago em relação á crise de 69 e a possiveis lutas contra a praxe só te digo uma coisa ALBERTO MARTINS!

    "(Vais ver os comments a cair que nem tordos)" acho este comentário um pouco desnecessário e ao mesmo tempo "infeliz".

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  15. http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/04/17/%C2%ABcrise-de-69%C2%BB-o-conflito-que-nasceu-da-palavra-negada/
    (Só para complementar um pouco mais o comentário do Paulo Mateus)

    Quanto ao comentário desnecessário e infeliz:
    Desnecessário? Talvez, mas tinha o propósito de reforçar a ideia anterior.
    Infeliz? Se calhar nem tanto, a prova disso é que te fez reagir (tal qual Alberto Martins), o que é bom! :)

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  16. Pois olly, de reaccionários ou de revolucionários...certamente seremos chamados de radicais, aquilo que se chama a toda a gente que ousa pensar...

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