Um texto que exprime, diria eu, na perfeição, aquilo que penso sobre a praxe, do Daniel Oliveira, do Arrastão.
«Em Coimbra, mas também em Lisboa, vejo espectáculos de humilhação colectiva. Em muitos casos com o consentimento dos próprios. Vejo a boçalidade satifeita consigo mesma. Vejo a ignorância transformada em cerimónia. Desde que não seja dentro da faculdade, digo eu, é lá com eles. E repito: aventurados sejam os idiotas porque deles é o reino da terra. Aquilo é a “tribo” no seu pior. É a obediência no que ela tem de mais degradante. Na rua passam em fila indiana, como carneiros, a repetir frases e canções inventadas por analfabetos. A praxe é o que seria uma sociedade sem cidadãos. Sem indivíduos. Sem inteligência. A praxe é a prova de como um pequeno poder de meia dúzia de imbecis chega para que a imbecilidade se transforme numa instituição. Dizem que serve para a integração. E é verdade. Ficam todos os praxados integrados na bovinidade dos praxantes. E essa é a razão porque odeio a palavra “integração”. Aquele que se quer diluir na mediocridade a nada mais pode aspirar do que a ser um medíocre. É por isso que só os inadaptados têm a corgem de resistir à barbaridade quando ela se impõe como natural. Dirão: que exagero, é apenas uma brincadeira. Não. É muito mais do que isso. É, como “tradição”, um código de conduta. A seguir no emprego, na vida, na família. É muito mais do que uma brincadeira. É uma lição. Isto é que é apenas um desabafo.»
«Em Coimbra, mas também em Lisboa, vejo espectáculos de humilhação colectiva. Em muitos casos com o consentimento dos próprios. Vejo a boçalidade satifeita consigo mesma. Vejo a ignorância transformada em cerimónia. Desde que não seja dentro da faculdade, digo eu, é lá com eles. E repito: aventurados sejam os idiotas porque deles é o reino da terra. Aquilo é a “tribo” no seu pior. É a obediência no que ela tem de mais degradante. Na rua passam em fila indiana, como carneiros, a repetir frases e canções inventadas por analfabetos. A praxe é o que seria uma sociedade sem cidadãos. Sem indivíduos. Sem inteligência. A praxe é a prova de como um pequeno poder de meia dúzia de imbecis chega para que a imbecilidade se transforme numa instituição. Dizem que serve para a integração. E é verdade. Ficam todos os praxados integrados na bovinidade dos praxantes. E essa é a razão porque odeio a palavra “integração”. Aquele que se quer diluir na mediocridade a nada mais pode aspirar do que a ser um medíocre. É por isso que só os inadaptados têm a corgem de resistir à barbaridade quando ela se impõe como natural. Dirão: que exagero, é apenas uma brincadeira. Não. É muito mais do que isso. É, como “tradição”, um código de conduta. A seguir no emprego, na vida, na família. É muito mais do que uma brincadeira. É uma lição. Isto é que é apenas um desabafo.»
Tiago Santos
Estudo em Lisboa e tenho uma opinião bem diferente da tua Tiago, embora reconheça que as praxes diferem de cidade para cidade, de universidade para universidade, algo que em parte, justificará esta nossa divergência de ideias.
ResponderEliminarUm dos primeiros gritos que ensinamos aos caloiros lá em Aeroespacial é a responderem à pergunta " Caloiros, o que é que vocês têm?" , "Um amigo que nos praxa!". E é com orgulho que te digo que no final da primeira semana de praxe, este grito é dito com sentimento, emoção e verdade.
Há por isso que não generalizar e entender que há praxes neste país, que embora fujam à tradição, tenham como principal objectivo o dar a conhecer aos caloiros os seus colegas de ano e de curso! E no dia em que praxes deste género acabarem, os caloiros demorarão um ano para conhecer metade dos seus colegas de ano e outro para conhecer meia dúzia, se tanto, de colegas de anos mais velhos.
Aqui fica expressa a minha opiniao..
Joana Marques*
Boas.
ResponderEliminarVenho aqui deixar mais uma opinião. Vou agora para o meu 10 ano no ensino superior (Não, não sou tão burro quanto isso… penso eu) e já houve tempos em que a praxe fazia parte do meu dia-a-dia. Eu tive o prazer de andar na Mui Nobre UTAD no final da década de 90 do século passado e lá fui vítima do que chamavam “a pior praxe do país” (Não sei bem porquê. Nunca fui praxado em mais lado nenhum, mas as que vi nos outros dois estabelecimentos de ensino por que passei são, como se costuma dizer, “para meninas”). Lá jogávamos rugby nas vacarias, andava quase diariamente vestido de rapariga (porque me armei em esperto) e fiz coisas que me faziam pensar duas vezes antes de me levantar da cama no dia seguinte. E sabem que mais? Adorei. Em menos de um mês fiquei a conhecer a Universidade toda, a cidade e pessoal de todos os cursos e até dos pólos, coisa que em três anos onde estou ainda não sucede. Para além disso, alguns dos meus colegas de praxe são hoje como que meus irmãos. (Mas aparentemente não isto é esta a integração de que se deve estar a falar)
Agora falando do texto transcrito. Refere que a obediência é degradante. Será? Não temos nós, no nosso dia-a-dia, obrigações a cumprir? Superiores no nosso local de trabalho? Obrigações para com a família? Não será o ensino superior o nosso primeiro contacto com um mundo realmente “exigente”, especialmente com o facilitismo que grassa hoje em dia? Uma pessoa aos 18 anos ainda é uma criança, toda a gente quando chega ao 3º ou 4º ano se vira para os colegas, quando vê as atitudes dos caloiros, e diz: - Meu Deus! Nós éramos assim tão totós? - É negativo “dizer” a um chico-esperto que ele tem de se aperceber que o mundo não gira em torno dele? Que ele ao longo da sua vida vai ter sempre alguém a quem responder pelos seus actos?
Ah, se calhar os caloiros são colocados em fila indiana porque é a maneira mais segura de movimentar multidões? E cantam porque fortalece o espírito de grupo e, bem, não metia piada nenhuma aos caloiros andarem macambúzios de um lado para o outro, ia ser uma seca.
Aquela afirmação sobre o diluir na mediocridade não percebo, eu por ir conviver com um grupo de amigos, cantar e fazer umas figuras tristes, mas se calhar bastante divertidas, vou tornar-me medíocre?
Vou só comentar uma afirmação deste senhor, Tiago Santos, na outra entrada do blogue. Ele afirma: ”Levem os caloiros a seminários de investigação, a conferências, a debates, se não há debates criem-nos, se não há cultura façam-na, teatro de rua, música e tudo mais que em tempos os estudantes faziam.” Na minha Universidade (onde fui praxado) havia tudo isso, e nos outros dois estabelecimentos por onde passei também. Só que não competia, obviamente, à comissão de praxe. Não faria nenhum sentido até porque não é movida por interesses económicos. Para isso é que existe a Associação e os núcleos. Este senhor Tiago, para quem afirma que foi praxado, desconhece o mundo académico. Se calhar não foi “bem praxado” (eu sei que isso não existe ).
Agora um exercício para dar azo à imaginação, para não nos tornarmos medíocres. Substituam a palavra “praxe” por “Igreja” (e vão adaptando mais uma ou duas). Não me entendam mal, eu sou Católico, se bem que não praticante (Eu sei que o Sr. padre diz que isso não existe – devo ser uma criatura mitológica), mas é só para fazer valer uma posição, em todo o lado há posições extremas e a forma como lidamos com elas é que nos constrói enquanto seres humanos.
Saudações académicas.
David
Caro David, de tudo o que escreveu sobre as praxes tenho a dizer que embora não concorde consigo, respeito a sua opinião!
ResponderEliminarAgora tenho de lhe dizer, a HUMILHAÇÃO seja ela em circunstância for, é sempre degradante e desumana! Jogar rugby numa vacaria não será de certo dignificante, vestir um homem de rapariga é no mínimo humilhante! E não acredito que tudo isto lhe tenha agradado!!
Mais, acho que só fala assim porque já não será praxado!
A praxe deveria de ter sempre em conta a dignidade humana, sem humilhações nem descriminação!
Quanto á comparação entre “praxe” e “Igreja” só tenho a lhe dizer que é uma comparação grosseira, desapropriada e de alguém que é totalmente desconhecedor do que é a Igreja!
Como você o assume quando diz que é Católico não praticante (realmente esse posicionamento “Católico não praticante” não existe; e você não é uma figura mitológica, é um Baptizado que NÃO ASSUME a sua missão, a promessa que os seus pais perante Deus no Sacramento do Baptismo e se calhar você próprio se recebeu o Sacramento da Crisma.)
"Quanto á comparação entre “praxe” e “Igreja” só tenho a lhe dizer que é uma comparação grosseira, desapropriada e de alguém que é totalmente desconhecedor do que é a Igreja!"
ResponderEliminarSerá?
Sou católica e praticante e concordo com o David. Afinal, se não há regras, não há igreja, há anarquia... a praxe é um conjunto de regras, uma iniciação.
"(realmente esse posicionamento “Católico não praticante” não existe; e você não é uma figura mitológica, é um Baptizado que NÃO ASSUME a sua missão, a promessa que os seus pais perante Deus no Sacramento do Baptismo e se calhar você próprio se recebeu o Sacramento do Crisma.)"
ResponderEliminarSe não existe porque é que entra nas contas da igreja? Porque é que contam sempre com os "não-praticantes" de cada vez que interessa fazer um censo? Afinal de contas eles são "apenas" cerca de 80% dos católicos em Portugal!
Aliás, prefiro um católico não praticante a uma beata fingida (e tantas/os que há por aí). Um não praticante sabe que está em falta para com alguém e, mais tarde ou mais cedo, sabe que os valores (de Deus) pelos quais ainda se rege o hão de chamar de volta; uma beata fingida não quer saber de nada disso, a sua vaidade "religiosa" minou-lhe a alma e a pouca dignidade que lhe resta... um não praticante pode apenas ter perdido a fé nas pessoas e acreditar em Deus, uma beata fingida (gostei do nome, agora atura-me lol) apenas acredita no seu deus particular, o deus que lhe faz as suas vontades todas...
Não queiramos ser mais papistas que o papa. Mais vale uma semente a tentar germinar em terra árida que uma figueira que dê figos amargos.
Começamos na praxe e agora já vamos nos católicos não praticantes...
ResponderEliminarBem, de tudo o que se disse até agora, existe uma verdade absoluta que explica e justifica a existência da praxe: só a faz e recebe quem quer! Pelo que sei, ninguém é discriminado por não ser praxado. Eu penso que a praxe tem os seus benefícios como o da camaradagem e amizade entre aqueles que são praxados, contudo, tudo tem limites e sempre que eles são ultrapassados, deve-se denunciar tais praticas. Eu não fiz serviço militar, mas do que me contam, os militares são sujeitos a muitas humilhações ainda que não de forma publica, e de tudo aquilo que passam juntos, reflete-se sempre em fortes amizades e camaradagens. Quando se recordam os anos académicos, a maior parte das pessoas recorda o ano de praxe... e isso quer dizer qualquer coisa.
A César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Com isto quero dizer apenas que existe praxe porque continuam a haver pessoas que querem ser praxadas! Se é justo ou não, não sei, mas sei que que não imagino a Faculdade sem praxe... mas uma praxe que não humilhe mas integre, isso sim!
Copi, LMC
é interessante a ideia que a maioria das pessoas tem da praxe... pensar numa praxe que realmente integra os novos alunos (os coitados dos caloiros!) no mundo académico é realmente um pensamento muito interessante... pena que nao seja mesmo isso que se passa nas nossas universidades...
ResponderEliminaro meu primeiro dia de aulas foi hoje e foi também o primeiro dia de praxes... e neste momento, nao tenho qualquer vontade de voltar à faculdade amanhã... porquê?
simples: não estou com vontade de voltar para um sitio cuja a única coisa que os "pseudo-doutores" sabem fazer é gritar... até pode ser assim que alguns se integrem, a ser humilhados; mas sinceramente, eu não me integro desta forma...
praxes sim ou não?
dispenso completamente...
Célia Gonçalves
Rio-me quando dizem que fui mal praxado, e rio-me também quando dizem que adoraram ser praxados. Não são os que não querem ser praxados que me apavoram, nem o facto de a praxe ser uma humilhação por muito mau que isso seja. O que me move nestas críticas são aqueles que sendo praxados, gostam.
ResponderEliminarAmigos, regra nº 1 de quando se faz uma análise sociológica, não falem do vosso ou do meu caso especial como um exemplo de uma dinâmica social. Olhem para a sociedade como um todo, e a sociedade como um todo é isto: 40% de abstenção nas eleições legislativas, jovens desinteressados, faculdades com debates e colóquios sobre temas imprescindíveis para a compreensão do mundo e da humanidade aonde vão apenas uma pequena parte dos alunos. Depois perguntamo-nos acerca do porquê, de Portugal ser um país semi-periférico, com indicadores ao nível da educação dos piores dos países ditos desenvolvidos, que a precariedade é um flagelo que nos assola cada vez mais, principalmente no caso dos recém licenciados. Mas como diz o amigo David, temos de nos ir habituando desde o prícipio a aceitar as hierarquias e a humilhação porque é isso que vamos apanhar no mercado de trabalho não é? No EXIGENTE mercado de trabalho...
Não caros amigos, o que devemos aprender em verdadeiras universidades de excelência é aprender que existe alternativa, porque é para isso que a praxe serve, é uma cerimónia comodista com o intuito de nos fazer crer que a vida, é mesmo assim, temos de nos ir habituando...
Quem me conhece sabe que gosto de mandar arrotos em público, de cantar feito toto até ficar rouco, de por o cabelo no ar parecido como Naruto, de gritar no meio da rua. Que no secundário cantava "A Internacional" no meio da escola para toda a gente ouvir...Não sou tímido nem nada contra uma imperial com uns tremoços. Voltando a falar de Antero de Quental, também ele bebia uns copos certamente nas tascas de Coimbra no Século XIX, mas não os bebia por qualquer tradição, bebia pelo convivío sim, mas bebia-os acompanhado pela genialidade, pela análise política, social, da realidade do país e do mundo.
A praxe é apenas um mecanismo para nos impedir de mudar o mundo...é a minha conclusão...
"A praxe é apenas um mecanismo para nos impedir de mudar o mundo...é a minha conclusão..."
ResponderEliminarDesculpa discordar contigo neste ponto (apenas). Estás a tentar juntar, a meu ver, alhos com bugalhos. Também já tenho algum percurso universitário e o que tenho tido por experiência é que a praxe nos abre caminhos para novos conhecimentos e, como afirma o David, para descobrir a Universidade de ponta a ponta. De que outra forma te dás a conhecer e às tuas ideias se não for pela camaradagem que crias durante a praxe? Claro que consegues de outra forma mas esses laços são mais fortes assim e duram mais que as pilhas duracel.
Por todo o mundo há praxes (umas piores que as nossas, outras mais discretas), não podes culpar a praxe pelo estado do nosso país e da mentalidade dos portugueses (tem mais sentido culpar a TV que vemos ou os jornais maravilha que temos).
Que não concordes com a praxe, aceitamos a tua posição, mas quereres fazer dela um cavalo de batalha para afirmares a tua indignação pelo que vemos todos os dias neste país... não vás por aí. Até porque apenas 15% dos portugueses vão para a universidade. Desses 15% apenas 1% ou mesmo 2% atingem cargos de chefia ou assumem algum cargo de responsabilidade no estado.
:D
Olly, tudo o que dizes continua a reforçar a minha posição. Revê os meus comentários e verás que não acho a praxe o único destes mecanismos, Morangos com Açucar são outro dos exemplos...
ResponderEliminar15% dos portugueses chegam à universidade, exacto, e esses 15% são a elite do país, com maior conhecimento e maior capacidade, nenhum país avança sem bons índices de educação como bem sabes. São 15% que influenciam todo o avanço do país.
A praxe é efectivamente um dos mecanismos tradicionalistas que temos mas não é o único, infelizmente.
E mais Olly, de que forma se dão a conhecer as ideias? Façam debates, por exemplo, porque razão apenas os meus amigos do Bloco e do PCP é que eu vejo a organizar debates sobre temas sociais e outros?
O meu desacordo com a praxe resume-se facilmente:
1- A praxe é, na sua natureza, a criação de uma hierarquia entre pessoas iguais, com o objectivo de fazer crer todos que não temos alternativa a uma sociedade hierárquica.
2- A integração, a camaradagem, e tudo o que lhe quiserem chamar, é sempre, (e quando não é, não é praxe...) estupidificante e harmonizante, ou seja, com o objectivo de tornar todos iguais...
Por último volto a reforçar algo que dizes ser juntar alhos com bugalhos. O exemplo mais fácil é o curso de economia. Em economia, a medíocridade é regra, o objectivo é arranjar um empregozinho e ser rico se possível. Mas há algo que não se pensa: Existem demasiados problemas sociais no mundo, o mundo está mal, milhões e milhões de pobres, de pessoas subnutridas, de criminalidade, de guerra, refugiados, tanta coisa...Como é que a praxe nos impede de mudar o mundo? impedindo-nos de pensar, e não é dificil, basta umas cervejas, meia duzia de conversa sobre o espírito académico, dizer uma vez ou outra que as conferências é pra marrões e que interessa é aproveitar a vida. Alguma vez alguem se volta a lembrar dos milhões de pobres?Não, eu não os vejo pelo menos...e sei que tu também não...
Tristes são vocês se só conseguirem abrir-se às pessoas com umas cervejas em cima, e se só conseguirem arranjar amigos a fazer figuras de parvos...
Até ver ainda nunca precisei disso...
Olá, voltei (para defender a minha dama).
ResponderEliminarAntes de mais peço desculpa a quem tenha ofendido pela minha “comparação”, se não ficaram cegos de cólera :) logo a seguir a esta leram “Não me entendam mal” já a antecipar esta situação.
Antes de mais, relativamente à humilhação da praxe e das actividades que mencionei, não me envergonhei, de todo, do que fiz. Era tudo pessoal amigo e do curso, e quem via sabia do que se tratava (era como arrotar em público). Tive o prazer de estar numa cidade que vive à volta dos estudantes e têm sempre uma mão amiga e compreensiva, sabem da importância dos estudantes para a terra e sabem bem o que é a praxe e muitas vezes até alinham nas brincadeiras. Depois, acho muito mais humilhante e vergonhoso atitudes e comportamentos que ofendem outras pessoas que as que me ridicularizem sem ofender outras pessoas. (Ah, mas não podemos individualizar, não é?)
“1- A praxe é, na sua natureza, a criação de uma hierarquia entre pessoas iguais, com o objectivo de fazer crer todos que não temos alternativa a uma sociedade hierárquica.”
Que eu saiba os “pseudo-doutores”, como foram apelidados, têm um pouco mais de experiência académica, de conhecimento dos conteúdos das cardeiras, do funcionamento da instituição, etc. Não é à toa que cada caloiro tem um(a) padrinho/madrinha de praxe, cuja função é “cuidar” do seu caloiro com aconselhamento, apontamentos, etc.
“2- A integração, a camaradagem, e tudo o que lhe quiserem chamar, é sempre, (e quando não é, não é praxe...) estupidificante e harmonizante, ou seja, com o objectivo de tornar todos iguais...”
Já que teimas em puxar isto para a política (atrás), somos ou não todos iguais em democracia? Ou somos uns mais iguais que outros? E em que ficamos? No ponto um dizes que cria uma hierarquia em pessoas iguais e agora dizes que tem o problema de nos tornar todos iguais?
Estupidificante? Não foi a praxe, por que tu passaste (mas não podemos individualizar, não é?), que te possibilitou formar uma opinião sobre esta e manifestares (e bem) a tua opinião (apesar de não concordar com os teus argumentos)?
E não é a praxe que limita qualquer coisa que seja, segundo essa lógica o pessoal que sai de determinadas instituições que não têm praxe deveriam ser grandes crânios e figuras proeminentes da sociedade.
(Continua)
Como tu (Tiago Santos) dizes que te ris com isto e com aquilo, eu também me rio daquelas pessoas que criticam a praxe por passar valores que consideram negativos (como se as pessoas não fossem inteligentes o suficiente para pensar por si próprias, se querem ser ou não praxadas, se querem fazer alguma coisa ou não, etc.) e a culpam pela falha do sistema de ensino, não se lembrando que se calhar a falha está nos programas curriculares desajustados ao mercado de trabalho, dos professores que não têm habilitações próprias para a docência de determinadas cadeiras e o fazem, pseudo-professores que nunca tiveram formação a nível de metodologia de ensino (Engenheiros, Advogados, etc.), falta de fundos para o ensino (seja ele superior ou não), falta de verbas para a Associação de Estudantes e núcleos realizarem eventos (as tais tertúlias e debates que teimosamente tentam colocar sob a responsabilidade de algo relacionado com a praxe), Associações de Estudantes corruptas (os políticos de amanhã), Falta de acompanhamento psicológico aos alunos que vão pela primeira vez para fora de casa (e aí entram os padrinhos de praxe), etc.
ResponderEliminarAcho o argumento da falta de iniciativa um bocado estúpido (mais uma vez não quero ofender ninguém). Isso tem por detrás muita bagagem cultural deste nosso país à beira mar plantado. Desde os resquícios da ditadura até ao facto de haver círculos em que só se entra se tivermos cunhas. Há depois as razões académicas que pouco ou nada têm a ver com a praxe. Quais são as sociedades mais empreendedoras a nível europeu? Os países nórdicos. Porquê? Porque têm um ensino altamente especializaste e “hands on”. Algo que os nossos governos tentam fazer mal e porcamente.
Para acabar, apenas queria dizer que duvido que alguém alguma vez tenha sido descriminado por não ter sido praxado. Há cerca de três anos, quando me lembrei de fazer outro curso, quando inquirido (uma vez que apesar de já ser licenciado era “caloiro estrangeiro”) se queria ser praxado declinei, apesar de não me declarar anti-praxe (era um disparate pois já tinha sido praxado e já tinha praxado). Nunca tive problemas nenhuns nem nunca fui posto de parte, antes pelo contrário. Ah, mas não podemos individualizar, não é? Então, para não o fazer, vou só dizer que o único senão é que uma pessoa que não participe na praxe não vai conviver nos períodos extra aulas (durante o período de praxe, pois afinal é só um par de meses) com os colegas de curso, e consequentemente não se vai integrar assim tão depressa neste.
Eu nunca associei praxes a bebida, nunca vi nenhuma praxe em que alguém fosse obrigado a beber nem em que alguém bebesse de dia em frente aos caloiros, e quando saíamos à noite com os caloiros para convivo não se praxavam. (lá estou eu a individualizar outra vez, não aprendo, vê-se mesmo que fui praxado!)
David
Caro David,
ResponderEliminarDe tudo o que diz acho que só vale mesmo a pena abordar uma coisa, que é a sua referência ao fascismo como um dos culpados do atraso do país. É profundamente verdade, mas então lembre-se que a praxe era exactamente uma das armas do fascismo, era com a praxe que se harmonizavam os estudantes e se extraía qualquer vaga de pensamento crítico. Felizmente os estudantes da altura não se deixaram amputar e decidiram eles próprios contestar o regime e ao mesmo tempo aboliram a praxe...Só em 1983 voltou a ser instaurada, e não sei como é que os estudantes se conseguiam orientar na universidade durante o período em que não existiu a praxe...
Bem Haja
Caro Tiago Santos,
ResponderEliminarNão sei como é que os estudantes se conseguiram orientar na universidade nos restantes seis séculos (arredondando) em que existiu praxe e, ironicamente, foi quando a dinâmica académica esteve mais forte e mais, chamemos-lhe, “produtiva”, como é exemplo a geração de setenta (do tal Antero de que falou). E se souber o que diz, não foi só a praxe que foi abolida nessa altura, foram todas as actividades académicas. Apesar de haver uma série de alunos, principalmente militantes do Partido Comunista Português, que defendiam a abolição da praxe apontando as mesmas razões que o Tiago apontou, não foi essa a razão da abolição. Não queira subverter os acontecimentos à sua vontade. A praxe existiu muito antes, e agora muito depois, do fascismo.
Por outro lado acho piada o Tiago só ler “o que lhe apetece” dos meus posts. Ignora por completo a minha desconstrução dos seus argumentos. Tem futuro na política.
David
PCP:
ResponderEliminar>Secretário Geral
->Comité Central
-->Comissão Política
--->Comissão Central de Controlo
...
BE:
>Convenção Nacional
->Comissão de direitos
-->Mesa Nacional
--->Comissão Política
---->Assembleias Distritais
----->Assembleias Concelhias
...
eu vejo aqui uma hierarquia.
echo um pouco de mau gosto alguém que dis que é "amigo" do BE e PCP poder colocar aqui artigos neste site. é no mínimo contraditório. Afinal de contas Jesus Cristo é Amor e liberdade, e o exemplo de países como cuba, coreia do norte e china são de tudo menos isso. países onde não há liberdade religiosa nem de expressão, onde as pessoas são presas porque pensão como o tiago
Errata:
ResponderEliminarecho=acho
dis=diz
pensão=pensam
Desculpem mas ainda não me habituei ao netbook
ahHhH!!!
ResponderEliminarAgora já percebi as discussões deste blog!!!!
"BE e PCP"!!!!!! Pois realmente nao podia dar noutra coisa!!! Enfim...
Por isso nao notei uma evolução nos comentários aos temas propostos!
Caro David, mais uma boa lembrança, a geração de 70, vá-se informar e descubra lá se não pertenciam à geração de 70 os primeiros subscritores de um manifesto anti-praxe...
ResponderEliminarQuanto à sua desconstrução falaciosa dos meus argumentos, não tenho grandes problemas, apenas mostra que não os leu e que não os percebe, vale pouco a pena continuar e escrever sempre o mesmo em comentários que simplesmente mostra não entender...
Mas vamos la desconstruir os seus contra-argumentos:
1- Esperemos então todos que os padrinhos sejam o garante da ajuda aos alunos com apontamentos e coisas do género não é? E de dependência, também pode ser não é?E para os caloiros pagarem aceitem ser humilhados, certo? E que tal essa ajuda ser feita por meios regulados dentro da própria universidade?
2- Efectivamente, a igualdade não é um conceito muito desenvolvidos para esses lados, uma coisa é a igualdade de direitos, que existe em democracia, que é benéfica e que a praxe não tem, outra é a igualdade de pensamento, que não é benéfica, existe em ditaduras, e que a praxe promove. É aquilo que já disse antes, a falta de pensamento crítico. A sua lógica sobre as instituições que não têm praxe é, no mínimo, anedótica, trazendo o fascismo como exemplo, dizer que o fascismo atrasou os países onde esteve implantado significa dizer que os países onde não esteve implantado tiveram um crescimento fabuloso. Parece-lhe um bom argumento?
3- Quanto à análise sobre os grandes problemas do ensino, concordo com praticamente tudo, parece que o nosso debate se reduz ao facto de eu achar que a praxe também está no leque dos problemas do nosso ensino, como resquício de outros problemas que falou como o fascismo e etc...
Outra das suas questões tem a ver com o meu reparo em relação ao problema de fazermos análises com os exemplos próprios, dos irmãos, dos tios e dos primos. Parece não ter gostado disso, mas é fácil de explicar com base na sua última frase: não conhece nenhum caso de obrigar os caloiros a beber? Eu conheço. Ou assim, pode-me falar de 10 casos de boas praxes, eu falo-lhe de 11 más que conheço, o sr fala-me de 12 boas e eu vou procurar 13 más.
Por último, e se achar os meus comentários demasiado ofensivos, peço-lhe imensa desculpa por isso. Aliás, sinto-me privilegiado e muito contente por estar a ter a oportunidade de debater consigo este tema, de uma forma sempre, minimamente elevada por parte de ambos, creio eu. E agradeço-lhe outra coisa que lembra no seu comentário: não conhece ninguém que tenha sido discriminado por não aceitar ser praxado, tem noção que qualquer caloiro a começar na faculdade ouviu dizer que não era assim, que quem não era praxado não arranjava amigos, certo? Por isso é que me custa achar que só é praxado quem quer...
Um abraço
Tiago Santos
Maria
ResponderEliminarNão se esqueça que igreja não se trata de uma instituição, ou melhor toda e qualquer organização de pessoas que adquira um número e uma amplitude demasiadamente vasta acaba por ser institucionalizada, no entanto, tal nao significa que todas as pessoas constituintes desse mesmo grupo concordem com as prespectivas que o pautam e que supostamente sao defendidas pelo mesmo. Alias mesmo sendo alguem catolico praticante nada o impede de achar que a instituiçao igreja é uma afronta face á igreja que vem explanada num compendio denominado biblia sagrada.
Quanto aos amigos de BE e do PCP, não entendo o que poderá ter isso de impeditivo de postar seja em que blog for, e mais os valores "amor e liberdade" não são defendidos por Jesus ou quem quer que seja que se digne de melhor ou pior forma por serem de direita ou esquerda. Penso que o seu comentario tem subjacente uma questão, será então a igreja (nao instituição mas grupo de pessoas com ideais em comum) praticante apenas de um pensamento (apelando a politica já que seguiu essa linha de pensamento no comentario publicado) jamais voltado para politicas de esquerda? ou melhor ainda a igreja trata se de um grupo exclusivo? (ao que eu respondo não... e não)
Cara Maria, cure-se...
ResponderEliminarApesar de o CJovem incentivar a livre expressão e a discussão acesa mas saudável como forma de crescimento pessoal, este artigo está a caminhar para um campo ao qual não interessa a nenhum dos participantes.
ResponderEliminarPedimos que mantenham o nível e evitem comentários de insulto pessoal directo ou indirecto, caso contrário não hesitaremos em encerrar os comentários para este post.
So queria esclarecer uma coisa, em nenhum momento o meu comentário foi dirigido á maria ou ao david!!!!! Até porque ela sabe o que está a dizer e em parte tem razão, e quanto a outro comentário de direita ou de esquerda Su não fales de direita ou de esqueda quando não sabes sequer do que se trata, pois não tem nada a ver com o que te referis-te no texto acima, e como tu muitas pessoas não sabem como nasce a distinção de direita e de esquerda! Só mais uma coisa -> "Cara Maria, cure-se..." extrema falta de educação!!!!
ResponderEliminarA minha intervenção deve-se ao facto de que acho um pouco contraditório o facto de alguém ser simpatizante de partidos que apoiam abertamente as políticas praticadas nos países que citei e, ao mesmo tempo, afirmar-se como católico praticante. Perdoem-me a expressão um pouco exagerada mas é quase como querer agradar a Deus e ao diabo.
ResponderEliminarNão respondo ao Tiago pois já li a advertência dos moderadores do Blogue (peço desde já as desculpas se o meu comentário levou a excessos).
Apenas pretendia mostrar que a hierarquia existe em todo o lado, sem ela não se consegue organização. Se é bom ou mau, não sei.
Tive um professor que me ensinou isto:
Quando alguém te insulta é porque perdeu todos os argumentos válidos que tinha para fazer valer as suas ideias ou para rebater as tuas.
Acredito que não seja este o caso, que tenha sido apenas um desabafo no calor da discussão.
Tiago e David, não vos conheço mas proporcionaram um excelente momento de discussão, no fundo não pensam muito diferente um do outro e agradeço a lição de boa argumentação/contra-argumentação.
caro paulo penso que nao devera julgar o meu conhecimento não me conhecendo o suficiente para isso. no meu comentario nao e defendida qualquer posiçao politica em relaçao a igreja ate porque jamais a igreja podera ser tomada por qualquer partido politico.
ResponderEliminarEsta manhã ouvi na rádio uma iniciativa engraçada:
ResponderEliminarOs caloiros de Gestão, em Lisboa, tiveram como exercício de praxe que limpar as praias da costa de Cascais. Aqui está um bom dexemplo de como uma praxe pode ser aplicada para o bem de todos.