quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A normalidade anormal

“A maioria dos adolescentes acha que o bullying em contexto escolar "sempre existiu e continuará a existir" e encaram com "pessimismo e resignação" o fenómeno, o que torna difícil uma intervenção eficaz e deixa pouca esperança à sua erradicação. São estas as principais conclusões de uma tese de doutoramento apresentada na Universidade de Granada, em Espanha, e que foi coordenada, entre outros, pela investigadora portuguesa Ana Maria Tomás Almeida, da Universidade do Minho.” (…)
O estudo refere que a aceitação do bullying como uma rotina e algo natural nas relações sociais entre os jovens é crescente. "Essa indiferença dos jovens face ao fenómeno deve-se sobretudo à banalização e tolerância da violência na escola e na sociedade em geral nas mais variadas situações, nos jogos de vídeo, na televisão, etc", comentou ao PÚBLICO Sónia Seixas, doutorada em Psicologia e autora de uma tese sobre bullying. "Se não existe intervenção por parte de uma figura adulta, há como que um reforço não dito, a atitude agressiva intensifica-se", sublinha Sónia Seixas. E acrescenta: "Este fenómeno surge de uma necessidade de afirmação normal na adolescência; no entanto, o bullying não é normal, essa afirmação pode ser manifestada de formas saudáveis."

O texto pode ser lido AQUI. Mas esta amostra já é o bastante para nos deixar preocupados.

Que esta tese mostre que a violência é encarada com normalidade pelos jovens, é motivo mais que suficiente para repensar todo o sistema: do familiar ao social, do escolar-educativo ao dos valores.
As escolas não podem ser 'caldo de cultivo' de gerações educadas no melhor dos planos tecnológicos - dos quadros interactivos ao Magalhães - mas que não conseguem transformar o 'muito saber' em sabedoria de vida; que não sabem que Jesus Cristo é grito de vida e de paz que atravessa gerações, ou que, por exemplo, Martin Luther King sonhou um sonho, daqueles que arrepiam, porque grávidos de utopia, de ideal, de futuro, de horizontes de sentido.
Quando o que deveria ser a excepção se transforma em regra, ou seja, em ‘normalidade’, há que dizer que isso é o princípio da banalização. E todas as banalizações são preocupantes. A agressividade e a violência não podem ser consideradas normas de conduta, atitudes 'normais'. Não é normal! Não pode ser 'normal', e basta! Há que agir em conformidade. É que é muito difícil alterar o que um dia se banalizou.

Graças a Deus - posso afirmar - conheço muitos jovens que se esforçam por abrir e trilhar caminhos de paz e por promover a cultura da não-violência.

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Mt. 5,9).

A. Brás

2 comentários:

  1. Infelizmente o 'bullying' sempre existiu, é próprio da natureza humana e, os mais novos (falo das crianças) por mais queridos e verdadeiros que possam ser, também conseguem mostrar o que de pior há no ser humano.

    Não quero apontar este como sendo o factor principal (seria demasiado redutor) mas o facto de os pais se desresponsabilizarem pela educação dos seus filhos, deixando-os ao Deus dará, de os professores terem as mãos atadas no que diz respeito à disciplinação dos alunos, tudo isto faz crescer a bola de neve.

    De que vale identificar os 'bullys' se não podemos fazer nada com eles? Se o papel de responsabilização cabe a pessoas que se descartaram dessa responsabilidade a partir do momento em que entregaram os miúdos nas mãos de uma ama ou de uma creche. Enfim, sinais dos tempos alguém diria... inventem-se novos pais, diria eu, mas esse papel cabe aos jovens de hoje.

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  2. @Maria, em geral, concordo com o que diz. Só não sei o que quer realmente dizer quando afirma que os professores "tem as mãos atadas". Como não sou professor - ainda que, de vez em quando, tenha contacto com os alunos, através da ida às escolas, em semanas de animação missionária, como aconteceu esta semana, - não posso avaliar disso que diz. Tenho, sim a ideia, que hoje há sistemas pedagógicos que me parecem "pouco pedagógicos", por paternalistas, por laxismo, por partirem de uma visão confusa entre o que é o exercício da autoridade e o autoritarismo...
    O ultra-liberalismo chegou aos comportamentos, fundamentando pedagogias sem regras nem normas ético-morais, e ai daquele que representa a autoridade se...
    Penso que é mais ou menos a isso que se quer referir.
    O facto é que, como refere, a bola de neve cresce, cresce.. E o estudo que aqui é referido confirma isso.
    A quem atribuir as culpas? Talvez a todos! Cada qual tem que assumir a sua responsabilidade. A começar pelos pais, sem dúvida! Ainda que eles irão dizer que também são vitimas do sistema! É o peixe a morder a própria cauda!
    E isto dá pano pra mangas! Que venham mais teses!

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