Lembram-se de mim?
Sou a jornalista Roxana Saberi que, de Janeiro a Maio de 2009, passou 100 dias na prisão de Evin, em Teerão, e a quem o namorado, o perseguido cineasta curdo Bahman Ghobadi, escreveu uma linda carta de amor:
My Iranian girl with Japanese eyes and an American ID is in jail. Shame on me! Shame on us!
Fui detida no dia do aniversário de Bahman, sábado, 9 da manhã, 31 de Janeiro. Ding-dong. Ding-dong. Ding-dong. A campainha da porta não parava de tocar. Eu acabara de acordar e ainda estava de pijama. Pelo intercomunicador, um tipo de meia-idade disse-me que era o carteiro. Vesti à pressa a minha rooposh (túnica) até aos joelhos e tapei o cabelo com um lenço branco, para o receber. Abri apenas uma fresta, e ele passou-me uma folha de papel. O meu modesto conhecimento da língua farsi só me permitiu ler "Prisão de Evin". Fiquei apavorada.
Tentei fechar a porta entreaberta, mas quatro homens forçaram a entrada. Ficaram chocados de ver o meu chador a tapar o piano, na sala. Revistaram tudo, de livros a fotos de família. Confiscaram CD, DVD e até extractos bancários. Que sorriso vitorioso o deles quando encontraram os meus dois passaportes, o americano e o iraniano. Já não poderia deixar o país. Eu vivia num quinto andar. Se habitasse o rés-do-chão, ter-me-ia lançado de uma janela para a rua.
"Temos de a levar para interrogatório", disse-me um deles. Não deram justificações, e eu pensei que o meu "crime" talvez fosse o de ter continuado a enviar notícias para vários media com os quais colaborava, como a BBC, a Fox e a National Public Radio, apesar de, em 2006, me ter sido retirada a licença.
As autoridades sabiam o que eu fazia, e nunca tentaram impedir-me. Talvez eu devesse ter partido nessa altura, mas achei que era uma oportunidade de escrever um livro sobre um país de enorme riqueza histórica e cultural, ainda um mistério, para mim, e incompreendido por uma grande parte do mundo. Seria um retrato do Irão pelos olhos dos iranianos.
Continua a ler o artigo AQUI.
Texto original de Margarida Santos Lopes
in Público
Fui detida no dia do aniversário de Bahman, sábado, 9 da manhã, 31 de Janeiro. Ding-dong. Ding-dong. Ding-dong. A campainha da porta não parava de tocar. Eu acabara de acordar e ainda estava de pijama. Pelo intercomunicador, um tipo de meia-idade disse-me que era o carteiro. Vesti à pressa a minha rooposh (túnica) até aos joelhos e tapei o cabelo com um lenço branco, para o receber. Abri apenas uma fresta, e ele passou-me uma folha de papel. O meu modesto conhecimento da língua farsi só me permitiu ler "Prisão de Evin". Fiquei apavorada.
Tentei fechar a porta entreaberta, mas quatro homens forçaram a entrada. Ficaram chocados de ver o meu chador a tapar o piano, na sala. Revistaram tudo, de livros a fotos de família. Confiscaram CD, DVD e até extractos bancários. Que sorriso vitorioso o deles quando encontraram os meus dois passaportes, o americano e o iraniano. Já não poderia deixar o país. Eu vivia num quinto andar. Se habitasse o rés-do-chão, ter-me-ia lançado de uma janela para a rua.
"Temos de a levar para interrogatório", disse-me um deles. Não deram justificações, e eu pensei que o meu "crime" talvez fosse o de ter continuado a enviar notícias para vários media com os quais colaborava, como a BBC, a Fox e a National Public Radio, apesar de, em 2006, me ter sido retirada a licença.
As autoridades sabiam o que eu fazia, e nunca tentaram impedir-me. Talvez eu devesse ter partido nessa altura, mas achei que era uma oportunidade de escrever um livro sobre um país de enorme riqueza histórica e cultural, ainda um mistério, para mim, e incompreendido por uma grande parte do mundo. Seria um retrato do Irão pelos olhos dos iranianos.
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Texto original de Margarida Santos Lopes
in Público
A carta (em inglês):
ResponderEliminarTo Roxana Saberi, Iranian with an American passport