terça-feira, 2 de agosto de 2011

A tijela de madeira

Certo homem, não podendo mais morar sozinho, foi viver com o seu filho, sua nora e com o neto.
As mãos do velho eram trémulas, a sua visão turva e os seus passos vacilantes; à hora das refeições, reunidos à mesa, todos se mostravam incomodados pela forma como, por culpa das suas limitações, fazia rolar a comida para fora do prato e, por vezes, até para o chão; os ruídos que fazia com a boca eram incomodativos e o constante derramar do copo para cima da mesa fizeram perder a paciência do seu filho.

Começaram então os insultos...



Um dia, cansados de tudo isto, decidiram tomar uma providência:
- Estamos cansados do leite derramado sobre a mesa, dos pratos partidos ou da comida espalhada pelo chão. A partir de hoje, pai, vai passar a comer sozinho naquele canto e com esta tigela de madeira para não a partir.

A partir desse dia o velho passou a comer numa mesa pequena, no canto mais afastado da cozinha. Ali tomava as suas refeições, enquanto a família continuava com os comentários insultuosos para com as suas maneiras. O pobre velho comia calado, sempre com uma lágrima no canto do olho tentando não ligar às admoestações que lhe eram dirigidas de cada vez que a colher teimava em cair ao chão ou que o copo, demasiado pesado, teimava em verter o conteúdo sobre a mesa.

Um dia, o filho chega a casa e encontra o neto a mexer num pedaço de madeira. Perguntaram-lhe o que fazia e a resposta foi pronta:

- Estou a fazer uma tijela de madeira para quando o pai e a mãe forem como o avô poderem comer nela.

- ...

A partir de então, o avô retomou o seu lugar à mesa e passou a receber a atenção e os cuidados que há muito merecia...

Texto enviado por: Pe. Serafim Marques (imc)

2 comentários:

  1. Em quase todas as sociedades/culturas do mundo, os mais velhos são tratados com respeito e carinho. Por vezes até com veneração, tanto pela experiência como pela sabedoria que adquiriram ao longo da vida. Apenas nós (a cultura ocidental), na correria do dia-a-dia, não temos tempo - nem paciência, por vezes - para cuidar de quem já passou por tanta coisa na vida - boa ou má.

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