Conduzindo-o para fora, O Senhor disse-lhe:
“levanta os olhos para o céu e conta as estrelas” ( Gn 15 )
Partindo da experiencia de fé de Abraão e da promessa feita por Deus de lhe conceder uma descendência numerosa, partilho convosco esta reflexão que nos pode ajudar a viver com alegria a vocação à qual Deus nos chama.
Sair para fora dos nossos círculos: é fácil fechar-nos em nossos pensamentos, interrogações, pensamentos, em nós mesmos. O Cardeal Patriarca numa entrevista recente à Voz da Verdade, falava no grande problema que é para o ser humano e a Igreja, viver em estado de monotonia em que nada nos surpreende. Tornamo-nos muitas vezes calculistas, com extrema prudência, que muitas vezes é desculpa para não receber e expandir o amor de Deus e ficarmos comodamente instalados no círculo que construímos à nossa volta. Sair para fora, impulsionados por Deus, é deixar-nos questionar, sair de nossas visões parciais e de nossas perspectivas. Abrir o nosso coração para poder contemplar a imensidão que é sinal da presença de Deus. A herança de quem nos precedeu, a presença de Deus na vida de cada um de nós, exige sair, questionar-nos e desinstalar-nos de tudo o que nos impede de viver com profundidade a nossa vocação de missionários.
Levantar os olhos; é antes de mais, a atitude do crente que vez mais além da realidade e desde a perspectiva da fé, vê e descobre a grandeza e a imensidade do amor de Deus. É caminhar com os olhos postos no Ressuscitado. Olhar para as estrelas, contá-las é antes de mais, a capacidade de contemplar o horizonte, para não ficarmos ancorados e com os olhos fixos, a olhar sempre do mesmo modo, sem percebermos que algo de novo está a acontecer. Que os nossos olhos e o nosso coração criados para contemplar as estrelas não fiquem olhando os nossos sapatos e contemplando o nosso pequeno mundo.
Abraão, no seu itinerário de fé, é para o crente um modelo. Deixar-se conduzir por Deus, para fora, levantar os olhos para contemplar novos horizontes pressupõe novas atitudes pessoais e comunitárias. Abraão nos indica dois traços fundamentais que podem iluminar nossas opções missionárias.
A fé vivida como hospitalidade; exemplo disso é um encontro de Mambré (Gn 18, 1-5). Abraão vai ao encontro dos visitantes, sai da tenda, se desinstala. As nossas casas, estão continuamente com pessoas, estamos dispostos a dar hospitalidade, mas muitas vezes ficamos à espera de um pedido. Abraão adianta-se e essa é verdadeira hospitalidade, gratuidade, dar espaço, ao outro, abrir as portas. São tantas as pessoas que passam na nossa vida. È importante, que sintam que não passaram em vão. Ir ao encontro, oferecer gratuitamente o que temos para que quem é acolhido possa restaurar as suas forças e seguir com a certeza de que Deus se fez presente e continua vivo.
A fé vivida como prova; Abraão foi posto à prova, com um pedido inusitado e surpreendente. Oferecer como sacrifício o seu próprio filho. A provação é o lugar em que experimentamos e passamos a ter uma confiança radical em Deus, que não repousa nos sinais e nas evidências. A fé em Deus sobrepõe-se a todas as convenções culturais, sociais e lógicas humanas. Confiança total em Deus e que ultrapassa tudo. A nossa missão é confiança total em Deus, que nos conduz e guia para um novo modo de existir e viver.
A memória de quem nos precedeu na fé e a missão que Deus nos confiou são um verdadeiro tesouro. Guiados por Ele somos convidados a desinstalar-nos e a levantar os olhos para contemplar a nova realidade e a imensidade de possibilidades que nos oferece, para viver com profundidade a nossa missão. Não tenhamos medo, é Deus que nos impulsa, nos anima e fortalece.
P. António Fernandes, IMC
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