terça-feira, 29 de maio de 2012

«Tinha que sustentar mais de dez pessoas»

O padre João Baptista Coelho recupera uma das muitas histórias de sucesso que encontrou durante o seu ministério, em Moçambique. Em concreto, lembra a perseverança de um jovem a quem a vida não sorriu.

Por muito tempo muita gente considerava os africanos como gente incapaz  e sem qualidades para singrarem na vida. As experiências dos missionários e não só, dão provas em contrário. Na minha experiência missionária de 26 anos encontrei jovens com capacidades excecionais no campo da música, tanto rapazes como raparigas, para o canto e para muitas outras áreas como a mecânica ou o comércio. Mas um jovem capaz em várias áreas e, sobretudo, na luta pela vida, não encontrou nenhum como o Leito File da Rocha conhecido, no seu ambiente, por Didó.

Conheci-o em Lichinga (Moçambique) quando ele era acólito na paróquia de Nzinje e aspirante ao Seminário. Logo ali se mostrou um jovem dinâmico e com boas qualidades de organização e de chefia. O seu pai de quem ele guardava boas recordações, por motivos de força maior, teve de deixar a casa e a família quando era ele muito pequeno. A mãe juntou-se a outro homem de quem teve mais três filhos. Mais tarde, faleceu. Poucos anos depois faleceu também o padrasto ficando ele responsável por si e pelos seus três irmãos.

Querendo seguir o exemplo de seu tio, pensou entrar no seminário onde teve ótimo comportamento e mostrou as suas qualidades organizativas e dinâmicas. Fez até uma coisa inaudita em qualquer seminário. O diretor queria reduzir o tempo de oração e ele opôs-se a isso dizendo que gostavam e queriam esse tempo de oração. Quando chegou a casa de férias no fim do segundo ano, encontrou uma amarga surpresa: foi informado de que o seu irmãozinho mais novo, o Curai que era muito franzino e doente , sofria de HIV, triste herança de seu pai.

Perante esta situação, o Didó lançou-se de alma e coração a fazer tudo o que era possível e até o impossível para salvar o irmão. Valeram-lhe os Médicos Sem Fronteiras. A criança chegou a melhorar bastante, mas não conseguiu sobreviver; era demasiado tarde. Assim, no dia mundial da criança, enquanto na Escola os seus companheiros faziam festa, o Curai subiu para o Céu. Outro problema que o Didó encontrou, ao chegar de férias, foi a economia. Além dos irmãos, ele tinha de manter muitos outros familiares, chegando a ter de sustentar mais de dez pessoas sem ter nada mais do que uma pequena pensão por morte da mãe. O Didó não cruzou os braços.

Já estava matriculado na Universidade para não ficar atrás dos colegas de Seminário. Tentou arranjar emprego e concorreu para mais de dez empresas que necessitavam de pessoal. Com todos os documentos requeridos, nenhuma lhe abriu a porta. Aconselharam-no a inscrever-se num banco e apareceu, de imediato, um lugar excelente. Ainda duvidou devido à incompatibilidade de horários que não lhe permitiam continuar os estudos. Alguém lhe recordou o antigo ditado que diz: 'primeiro viver e depois filosofar'.

Aceitou o empregou e em breve mostrou quem era. Conseguiu resolver alguns problemas que nem os empregados mais antigos e nem sequer o gerente conseguiam resolver. Na Universidade brilhou de tal maneira que era encarregado de substituir os professores  quando eles se ausentavam. Muito mais se poderia dizer sobre o Didó. O que fica dito poderá servir de exemplo a todos os jovens em dificuldade para não desanimarem nem cruzarem os braços. Exemplos destes não podem ficar escondidos.

João Baptista Coelho

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