segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Crise V

(Partes I, II, III e IV)

Experimentemos então analisar a crise actual da dívida pública portuguesa por outro prisma. Portugal é um pequeno país da periferia da Europa. Sofre de graves problemas estruturais principalmente ao nível das qualificações que é transversal a todo o país. Isto leva a que os processos de produção deixem o país com níveis de produtividade imensamente baixos quando comparados com os outros países da UE. Os países periféricos acumulam sempre défices nas balanças de pagamentos (importações menos exportações) que são compensados com os excedentes de outros países. Depois do 25 de Abril, o país tentou uma sucessiva aproximação aos restantes países europeus que culminou com a entrada na então Comunidade Económica Europeia em 1986. O principal trunfo de Portugal junto da Europa era a sua mão-de-obra barata, o que possibilitou que viessem muitas empresas estrangeiras estabelecer fábricas no nosso país, permitindo assim grandes níveis de crescimento. A entrada no Euro permite que o dinheiro entre a baixo custo na nossa economia. Os créditos tornam-se baratos. A euforia em relação ao futuro do país generaliza-se. São organizados importantes eventos que mostram para fora um país próspero e desenvolvido como a Expo 98 ou mais tarde, o Euro2004.

A dívida pública e o défice das contas públicas mantém-se a níveis minimamente aceitáveis até que em 2001 o défice atinge valores anormalmente elevados, derivado de derrapagens nas contas públicas. Os sucessivos governos que aparecem de seguida tentam pôr ordem nas contas aumentando impostos e reduzindo a despesa com claros efeitos recessivos na economia. Em 2006 o défice parece estar controlado, sem que a dívida pública tenha subido para níveis insustentáveis. Em 2007 surge a crise internacional que nos afecta com força em 2008. O défice dispara em virtude dos mecanismos já explicados. A dívida pública dispara em virtude do défice.

(Continua)
Tiago Santos

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