sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O meu querido umbigo


Hoje em dia é inevitável falarmos de crise, em qualquer conversa de café falamos dela, colocamos todas as culpas na crise, o bode expiatório para tudo o que de mal existe neste mundo.
Há uns tempos atrás ouvíamos o Presidente da República apelar à solidariedade como forma de vencer estes tempos menos bons, apelo seguido por muitos portugueses como se pode ver pelos números recorde alcançados pelas diversas campanhas de ajuda, no entanto, nestes últimos dias vêm-nos de Itália (e não só) notícias deveras preocupantes.
No passado dia 5 li uma notícia que, de forma humorística, denunciava um problema algo sério: num presépio da paróquia de Agrigento, um pequeno quadro afirmava que o Menino não iria receber os presentes dos reis magos por estes terem sido impedidos de entrar em Itália, por terem sido expulsos da fronteira.
Uma clara crítica às políticas de emigração da EU por parte da diocese, pensei eu e, apesar de ter tomado nota do ocorrido, não liguei mais à notícia.

Hoje, o Público, publicou uma outra notícia que me fez recordar o presépio de Agrigento: “Nem animais, nem estrangeiros…”. Começava assim o título e relatava a forma como, para desculpar a crise, alguns movimentos italianos, apontam o dedo à população emigrante, conseguindo mesmo que o sentimento nacionalista (não quero dizer xenófobo) tome conta do país.

É pena ver que, em vez de as pessoas se unirem de forma a vencer os momentos menos bons, se fecham sobre si próprias, apontando o dedo e discriminando quem quer que lhes pareça ameaçar o seu “ninho”. Chega-se mesmo à agressão e segregação só porque são diferentes de nós, a notícia denuncia mesmo, como exemplo disso, anúncios de venda de imóveis em que constam avisos como “Nem animais, nem estrangeiros” ou “só italianos, chineses não”. Os casos mais mediáticos deste problema foram os insultos proferidos pelas claques da Juventus a um jogador italiano, de ascendência ganesa, do Inter de Milão ou mesmo as repetidas agressões a cidadãos estrangeiros por toda a Itália neste início de 2010.

Será esta a melhor forma de nos defendermos em momentos de crise?
Olharmos para o nosso umbigo e atirando pedras contra tudo o que mexe, voltando aos ideais nacionalistas dos séculos passados como desculpa para a sobrevivência?
Estará o discurso cristão, ou mesmo o do nosso Presidente da República, assim tão desactualizados num mundo cada vez mais “aldeia”?

Gostava de pensar que não… mas os factos mostram o contrário.

Olly

6 comentários:

  1. O ser Humano tem que por a culpa sempre em alguém ou em algo.
    Tudo o que acontece, agora, de mau, tem a haver com a crise. E existe crise porque... (inventam inumeras desculpas)
    Mas a maior crise que atravessamos neste momento, acho, que é a dos afectos. Os valores da vida são esquecidos e é dada a desculpa da crise.
    Nem tudo é desculpa para o que fazemos.

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  2. Este blog é um bom meio de estudo de uma realidade interessante: não nos andamos a preocupar com o que realmente nos devia preocupar. O que destrói a familia é uma sociedade baseada no interesse próprio e no egoísmo, não é o casamento gay. Mas as questões que têm a ver com isso, como o que é falado enste post, não têm comentários como aquilo que faz comichão aos costumes a que nos habituámos...

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  3. Apoiado a 100%
    É muito mais fácil falar quando não podemos fazer nada, agora quando nos cabe a nós fazer... aí enroscamo-nos no nosso cantinho bem caladinhos (talvez à espera que passe).

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  4. Não tinha visto essa notícia do Público.
    Sinto-me chocada. Alguém que me explique como é possível encontrar argumentos que validem a xenofobia... é impossível nos dias que correm encontrar alguém que não possua uma célula que seja de outra raça ou etnia, como podemos argumentar o que quer que seja em favor de uma raça ou algo assim? É o degredo, a ignorância suprema.

    Ao comentário do Tiago Santos:
    Há uns tempos participei numa palestra sobre a juventude e lá debateu-se o facto de os jovens estarem muito desligados do mundo real... falam muito acerca de conceitos (cor-de-rosa) mas desligam-se do mundo e deixam de ter opinião quando lhe são pedidas acções concretas, posições.
    Na experiência que tenho com jovens e adolescentes vejo isso todos os dias, não há compromisso, mas há muita emoção, muita utopia, muita mão cheia de nada.

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  5. Por isso não te espantes que esta notícia não seja comentada. É algo que não encaixa no mundo utópico de muito jovem.
    Infelizmente.

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  6. Exactamente cara Maria...Mas eu duvido bastante que a culpa seja dos próprios jovens, pelo menos exclusivamente...

    É culpa de todo um sistema social que os vai formatando desde pequenos e enquanto ainda nem podem fazer as próprias escolhas.

    O referencial utópico dos jovens actualmente é tirado dos morangos com açucar, o que leva com que os seus sonhos sejam o de ter umas calças rotas e fazer parcour em cima de comboios...

    Mas a culpa não é deles...nunca lhes ensinaram mais nada...e não podemos achar que aprender é uma tarefa isolada que cada um deve empreender sozinho. É algo que se faz no conjunto, e se eu sou JMC é porque acho que é no conjunto e na própria criação do conjunto que se pode fazer a tarefa de mostrar alternativas de vida às pessoas...

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