segunda-feira, 19 de abril de 2010

As moedas misteriosas

Há algo que me preocupa deveras: nesta correria intensa do dia-a-dia, neste tempo em que as vinte e quatro horas do dia parecem não chegar para nada, o que vai ser dos nossos anciãos?
Até há alguns anos atrás, os mais idosos ficavam em casa, amparados pelos filhos, a ajudar no que ainda podiam e seguros que, no momento da sua partida, teriam alguém junto deles. Nos dias que correm esse quadro já não se pinta: com o casal a ter de trabalhar 8h (no mínimo), a ter de ir buscar os miúdos à escola e etc... que tempo fica para os nossos anciãos? Restará apenas o velhão (como retratava o Gato Fedorento num sketch)?
Desta vez deixo-vos um pequeno conto que faz pensar um pouco:

Um velhinho, sentindo-se abandonado pelos seus familiares, foi desabafar com um amigo:
- Sou viúvo há vários anos. A minha reforma não dá para nada e a minha família não cuida de mim como devia. Passo fome, não tenho roupa decente, falta-me carinho. Que devo fazer?
O amigo foi buscar um saco de moedas sem grande valor e disse-lhe:
- Leva este saco de moedas para o quarto. Umas três ou quatro vezes por semana põe-te a contá-las, mas faz com que elas tilintem de maneira a que os teus familiares ouçam. Dá a entender que guardas contigo uma grande fortuna.
O homem regressou a casa e assim fez. Quando os familiares ouviram o tilintar das moedas ficaram intrigados e comentaram entre si:
- Onde foi ele buscar tanto dinheiro? Temos de tratá-lo bem para que nos deixe a sua fortuna em herança.
As coisas mudaram e o velhinho foi contar tudo ao amigo. Quando morreu, os familiares procuraram por todo o lado e apenas encontraram um saco de moedas, moedas de pouco valor.
Quem cuidará dos nossos anciãos? Quem lhes dará o carinho necessário para viverem uma vida serena e feliz? São precisas pessoas que lidem com os idosos, não pensando apenas na herança, mas amando-os de todo o coração.
in Boas Noites, pequenas histórias para o espírito, de Pedrosa Ferreira

Olly

6 comentários:

  1. Esta é uma realidade cada vez mais presente na nossa sociedade.
    Os idosos são postos de lado, quase que completamente esquecidos pela família.
    A vida cada vez exige mais das pessoas, não deixando espaço de manobra para todas as coisas. E como nem sempre sabemos definir correctamente as nossas prioridades, há sempre algo (importante) que fica para trás.
    A questão do dinheiro também é muitas vezes a razão do "esquecimento" ou "lembrança" dos velhotes.
    Andamos a trocar o ser pelo ter...

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  2. Falo por mim, muitas vezes penso no que será dos meus pais daqui a alguns anos. Comigo a trabalhar a tempo inteiro, com os fins de semana preenchidos com catequese, grupo coral e a preparação das aulas... onde vou ter tempo para lhes dar o apoio que podem vir a precisar? Não são poucas as vezes que penso nisso e a opção de um lar, por mais que me desagrade, deve ser tida em conta.

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  3. Agora vou ser advogada do diabo...
    Tendo em conta que antigamento era muito raro um casal ter apenas um filho, era normal entre todos os filhos dividirem a tarefa de cuidarem dos pais. Hoje em dia com o problema de a maioria dos casais só terem um filho, é lógico que vai recair sobre esse filho toda a tarefa de cuidar dos pais idosos - o que não é facil.
    Além disto ainda acho que de alguma forma também está o problema de os pais desde muito cedo nunca terem tempo para os filhos. Dão-lhes tudo materialmente falando mas não lhes dedicam tempo nem carinho. Quando os filhos um dia precisam de retribuir o cuidado e o carinho também não irão ter tempo e retribuirão na mesma moeda.
    Acho que o importante é repensarmos seriamente no nosso modo de vida e pasarmos a dedicar mais carinho e atenção aos nossos familiares.

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  4. É curioso pensarmos que quando um casal tem um filho, ou filhos, é capaz a maior parte das vezes dos maiores sacrificios para dar aos filhos o que eles precisam, às vezes até abdicam do seu espaço para dar espaço aos filhos.

    Mais tarde, quando já estão na "velhice" são invocados imensas desculpas para os colocar nos lares de terceira idade, (alguns de péssima qualidade), entre elas a falta de espaço.

    Esquece-se esta geração, que este exemplo que estão a dar aos mais novos vai também ser utilizado com eles, ou melhor, connosco.

    Basta lembrarmo-nos de perceber quantos lares de terceira idade existiam há 20 anos atrás e quantos há agora.

    Quem não respeita os mais velhos, também não se respeita e um dia vai ser também desrespeitado.

    Claro que há excepções, graças a Deus.

    «Honrar pai e mãe»!

    Abraço amigo em Cristo

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  5. Para ajudar a esta bonita reflexão, gostaria de compartilhar um vídeo de uma música brasileira que reflecte esta dura realidade dos nossos idosos... Cabe a cada um ser o filho adoptivo dos seus idosos...

    Muito bonita a letra desta música!!!! e faz-nos pensar...

    http://www.youtube.com/watch?v=qJC5oq_Kxy0

    Copi, Lmc

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  6. Concordo a 100% com o comentário da Teresa Gordo. É isso mesmo. É um modelo que está errado.

    Não vale a pena olhar para isto de forma isolada e esperar que as pessoas de repente vão pensar de forma diferente porque sim.

    É um modelo e mudar o modelo implica mudar muitas outras coisas...

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