terça-feira, 4 de maio de 2010

Jovens cheios de projectos para a vida

Muitas vezes, os meios de comunicação anunciam que os jovens já não sonham, já não sabem projectar a vida, iludem-se muito facilmente com propostas sem sentido; desejam e esperam uma vida sem sacrifícios.  

Mas há quem não pense assim. Jovens, alunos do 12º ano do Colégio Santa Doroteia, em Lisboa, afirmam que isto não é verdade. Segundo eles, os jovens continuam a sonhar e a amar a vida, apesar das turbulências e das afirmações negativas por parte da sociedade. Eles continuam atentos às questões referentes à vida e a agir no mundo.
Na última terça feira, 4 de Maio, ao término de um encontro de reflexão e formação, organizado pelos Missionários da Consolata, no Cacém, depois de terem reflectido sobre diversas questões a propósito do mundo do jovem e dos seus projectos, enumeraram vários objectivos que cada jovem deveria seguir para ser feliz. Não faltaram propostas: conseguir pensar com liberdade; ter paz interior; estar bem consigo mesmo; amar com intensidade o que se faz, não com um amor banal, mas com um amor incondicional; ter um projecto de vida; ser verdadeiro; viver com simplicidade e transparência; ter paixão pela vida; acreditar que se pode fazer a diferença; ver e perceber as qualidades dos outros; ter e propor ideias originais; fazer amizades; criar relações saudáveis com as pessoas; confiar na missão que Deus tem para cada um; sonhar sempre; auto conhecer-se; procurar manter uma relação equilibrada com Deus e com a natureza, através da oração.
Muitos dos jovens acreditam firmemente que o mundo será melhor quando deixarmos de ser egoístas e aprendermos a amar mais a Deus e a humanidade. Uma jovem, participante do encontro, diz que gostou muito da partilha dos colegas e afirma que, quando reza, sente-se muito bem e realizada como pessoa. Diz que não encontraria sentido na sua vida sem a presença amorosa de Deus. Confessa que, para ela, é impossível não crer Nele.

João Batista

20 comentários:

  1. Sou uma aluna desta turma e penso que falo por todos quando digo que foi um dia de reflexão, de paragem, de união com Deus, mas também união de turma!
    Obrigada pela disponibilidade e acompanhamento nas nossas reflexões.
    Um beijinho,
    Mafalda Sá

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  2. A análise dos jovens e da sua realidade é uma área cheia de enviesamentos e de incertezas...

    A abordagem mais científica tem saído pouco dos campos da psicologia e da psiquiatria e pouco da sociologia. O resultado disso é que se tende a olhar os casos individuais e as angústias individuais e sobre estas tem-se actuado. No entanto, ninguém parece interessado em compreender as dinâmicas de grupo que afectam os jovens. A forma como se relaciona a sua individualidade com as relações sociais que estabelecem entre si e com o meio que os rodeia.

    A consequência prática disto é que, quando se fala do facto dos jovens não serem interessados e serem individualistas e consumistas quase por natureza, se esquece toda uma lógica que os envolve, que os sustenta, que lhes é apresentada desde tenra idade e que os molda.

    Como explicar pelo paradigma convencional que nunca como hoje os jovens participem em actividades de voluntariado, por exemplo? Implica-se com o telemóvel porque torna as relações mais distantes mas nunca se aponta que os jovens parecem não conseguir viver sem falar uns com os outros constantemente. Nem tampouco se aponta a oportunidade que as novas tecnologias dão para desenvolver as capacidades de relacionamento inter-pessoal e até no desenvolvimento da criatividade e etc...

    O que quero dizer com isto é que os jovens estão num meio social que os envolve e os afecta. Não são maus ou bons por natureza, nem será fácil mudar cada jovem individualmente. Individualmente os jovens são diversos e apenas mudando as dinâmicas de grupo dentro dos jovens se pode inverter as coisas negativas que todos apontamos.

    Actuar numa turma inteira é uma grande ideia, mas também só funciona se a dinâmica da turma for de receptividade a este tipo de actividade. Pelos vistos a turma em causa é receptiva. De seguida tem de ser inclusiva e crescer como grupo e por fim terá de ser efectiva e traduzir a dinâmica em práticas reais capazes de produzir resultados.

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  3. Tiago, talvez tenhas razão, que no que toca aos jovens "haja uma lógica que lhes é apresentada desde tenra idade.. Mas eu pergunto: os jovens são causa ou consequência? Eu penso que podemos ter a tentação de nos "justificarmos", digamos assim, por uma sociedade que achamos que não nos compreende, e acabamos por entrar numa lógica de vitimização.
    Quanto ao exemplo que deste do telemóvel, eu acho que é um grande meio de comunicação entre os jovens. mas também acho que há muito exagero no seu uso. A relação cara a cara está em desuso. É mais fácil recorrer à impessoalidade de um sms. Acho até que é a arma dos tímidos.
    De resto, também estou de acordo contigo no que dizes no último parágrafo do teu comentário, quando te referes à dinâmica da turma em causa, de que fala este artigo.

    Maura

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  4. Cara Maura,

    Em relação à sua pergunta eu deixo outra pergunta:

    Os jovens estão mal por alguma predisposição genética para serem maus e piores que aqueles que os antecederam? É que se geneticamente são a mesma coisa, só a envolvência social pode justificar o que está mal. A envolvência é feita por realmente tudo o que os envolve e que eles próprios também criam. Acontece que os jovens só começam a criar numa idade relativamente avançada, depois de um longo período de infância em que tudo é apenas adquirido.

    Não podemos esperar que jovens incultos mudem alguma coisa, mas não podemos esperar que recém adolescentes procurem cultura apenas porque sim, se ninguem lhes explicar que o devem fazer e se inculcarem em vários deles o gosto por isso...

    Obviamente que isto não serve de desculpa ao nível individual. Alguém que compreende isto já não pode desculpar-se dizendo que ninguém lhe explicou. Se se desculpa é porque já sabe e o que tem de fazer é agir...

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  5. "Não sou esperto nem bruto
    Nem bem nem mal educado
    Sou simplesmente o produto
    Do meio em que fui criado"
    (António Aleixo)

    Tiago, não sei exactamente a influência que possa ter a "predisposição genética" na bondade ou maldade dos jovens. Concordo, com António Aleixo, que o meio influência a pessoa, mas discordo que seja determinante, isto é, que ele acabe por ser "o produto do meio..."
    Se o jovem é inculto, não depende apenas de factores externos para que deixe de o ser. Seria o caminho mais fácil para justificar a infantilidade e a imbecilidade reinante. Falo por mim: tive que me separar, digamos, de um certo meio social juvenil que tendia a enquadrar-me na "massa". A saída foi ir contra-corrente. O que não é nada fácil. Mas dá-me um gozo!

    Maura
    Maura

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  6. Então quer dizer que existe algo mesmo na essência e na natureza dos jovens actualmente que os faz ser como são?

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  7. Eça de Queirós, dentro da linha de pensamento do seu tempo, já dizia que o Homem forma-se por 50% de hereditariedade e 50% de socialização.

    O que forma os jovens de hoje é o meio em que se inserem, se os há que rumam contra a corrente e que têm gozo nisso, como afirma a Maura, esse aspecto deve vir do lado genético. Sempre houve e sempre haverá jovens que se diluem na sociedade e não sobressaem, outros há que, por remar contra a corrente, conseguem fazer valer as suas ideias.

    Resumindo, a sociedade de hoje faz os jovens de hoje mas são precisos mais como os deste encontro e como a Maura e o Tiago para, não só, colocarem em causa o mundo mas terem a força suficiente para mudar algo.

    P.S. Não liguem, hoje acordei filosofa.

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  8. Tu o dizes, Tiago. Ou melhor: parece que perguntas! :)
    As análises não são tão simples assim. A generalização não é um bom caminho, mas acho que os jovens de hoje, no geral (e sublinho: no geral) são massa, moda, rebanho. Mas o pior ainda é que ficam-se pelas ramas. Quando foi o "Limpar Portugal" fiquei muito frustrada. Com uma colega, motivamos e organizamos um grupo, pensei que estava tudo a andar e, no dia H, não apareceu nem metade dos que disseram que vinham. E isso acontece noutros campos.
    Mas são estes mesmos jovens que criticam a sociedade, os políticos, o mundo... Dá-me tristeza.
    Os jovens são o que são, mas não deviam ser como são. Pronto, e lá estou eu a generalizar outra vez! Mas, ainda assim, acho que é assim mesmo.

    Maura

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  9. Maria, ainda bem que acordou filosofa. A sua reflexão acrescenta algo interessante a este debate.
    Não sei se vem "do lado genético" ou não. Desconfio que não. Se não vejamos: será que vem do lado genético tansformar a cerveja numa "devoção" diária, que te faz depende, para não dizer os vários tipos de drogas. Ou passar os tempos livres diante dos jogos de computador, ou fazer sala nos cafés?
    "A sociedade de hoje" é uma abstracção. Não existe "a sociedade" que faz e influencia os jovens ou sei lá que mais. Existe, isso sim, os jovens que também fazem parte da sociedade; ou ainda não se deram conta disso?
    Maura

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  10. Eu acho que a hereditariedade apenas dá uma tendência que a sociedade envolvente depois apura: por exemplo, geneticamente posso ter mais jeito para tocar piano ou não, mas se a sociedade não me facultar um piano e aulas a partir dos 3 ou 4 anos nunca serei grande pianista.

    Tudo o que os genes nos dão é apenas poder potencial, diferenciado mas equivalente. Dão-nos mais ou menos força física que podemos usar para impor a justiça ou a tirania mas não fazem à partida ninguém ser bom ou mau.

    Esta minha teoria apela à humildade. Se eu me sinto diferente da bovinidade generalizada, não é por qualquer mérito exclusivo de mim mas sim por uma sorte dos diabos de ter tido estimulos minimamente certos em momentos também minimamente certos.

    Se os jovens estão mal e parece que não pensam nem criticam, não pode ser porque os seus genes mudaram genericamente nos últimos anos. O que mudou foi o ambiente que os envolve e só actuando sobre o ambiente se podem mudar os jovens.

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  11. Anda por aqui um interessante debate. O CJovem cumpre, assim, uma das suas função: reflectir e debater questões, sobretudo as que estão mais relacionadas com a matéria prima deste blog: a juventude.
    E quando são os próprios jovens a debaterem entre si, melhor ainda!
    Parabéns pela elevação no debate. A todos nos enriquece, esclarecendo pontos de vista, apontando caminhos, abrindo clareiras nesta sociedade e nesta Igreja algo adormecidas.

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  12. Tiago, concordo, em parte, contigo; mas só em parte!
    Por exemplo, quando dizes: "O que mudou foi o ambiente que os envolve e só actuando sobre o ambiente se podem mudar os jovens." Nisto discordo, em parte. E digo porquê.
    Mas, quem é que vai actuar sobre o ambiente? Não tem que incluir também os jovens. A mudança vem de fora? Se é assim, acredito que a mudança se faz mais difícil. Ou não!

    Maura

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  13. Obviamente que tem de contar com os próprios jovens mas, será muito difícil partir deles. E a explicação é simples: eles não conhecem alternativas de vida, só depois de alguém lhas apresentar eles podem criar outra dinâmica e ir à procura de mais alguma coisa...É o conhecimento que os pode tornar agentes activos na busca da sua própria libertação. Antes disso, não tenho esperança nenhuma...

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  14. Os jovens de hoje têm acesso a mais conhecimento num dia que tinham os nossos pais há 30 anos atrás num ano (não é minha a comparação). O problema é que esse acesso à informação se tornou tão banal que deixou de suscitar o interesse.
    Não podemos dizer, então, que há falta de estímulo para que os jovens aprendam algo de diferente.
    Hoje, mais que nunca, encontro uma diversidade de gostos, ideias e modas a conviver numa só sala de aula. Os estímulos estão lá, o problema é que são tantos que passam despercebidos.

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  15. Tiago, discordo! Não são só as pessoas que são fontes de informação e formação. A "outra dinâmica" também se cria, também deve ser nova. Parece-me que a tua teoria anula a criatividade, a iniciativa, o estímulo e a motivação.
    E o saber que parte das experiências de cada um, onde fica? O que fazer com ele? Os jovens temos asas, mas alguns estarão à espera que voem por eles. Não dá!

    Maura

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  16. Ah, só para dizer que parece que a Maria vai na mesma linha que eu.

    Maura

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  17. Se me permitem.
    Mais que uma falta de estímulos ou falta de vontade, acho que a verdadeira culpa pode estar naquela ideia paternal que "os meus filhos hão-de ter o que nunca tive e não hão-de passar pelo que eu passei!", incluo aqui a sobre-protecção paternal. Lembro-me de ser criança pequena e ter total liberdade para me sujar, magoar (e de chegar a casa e levar um valente tabefe eheh) e fazer trinta por uma linha... Hoje a realidade é bem diferente.

    Os jovens, desde cedo, são super-protegidos. É mais que óbvio que uma pessoa, num ambiente destes se torna dependente em todos os aspectos: dos pais, dos colegas, dos professores até. Qualquer iniciativa está cheia de interrogações:
    E se falho?
    E se os meus pais sabem?
    E se me magoo?
    E se...?
    A iniciativa vê-se anulada pela "resma" de cautelas que, durante a vida inteira, lhes foram apregoadas religiosamente.

    O resultado é óbvio, as iniciativas existem mas os medos sobrepõem-se e a forma mais segura de viver os seus sonhos é na segurança da "manada" tentando não sobressair para não ser deixado aos lobos.

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  18. O Olly acerta na mouche... o meu argumento é que isto que o Olly diz é mais que certo, mas apenas um exemplo das conjunções sociais que afectam os jovens e que os impedem de usar a criatividade e a iniciativa.

    Sim, os jovens têm muito informação disponível: mas se lhes perguntarem porque devem interessar-se por política não sabem porquê? De que vale tanta informação se nunca a sociedade os deixou, ou ensinou a usá-la ou porquê usá-la?

    Não são só cautelas, é o "tem juízo", o "vê é se arranjas um emprego e ganhas um dinheiro pra te sustentares", é o "competitividade" que se ouve em todo o lado...

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  19. “Os jovens têm asas, mas alguns estarão à espera que voem por eles.”

    Não diria que os jovens estão à espera que voem por eles, mas dar um “empurrão” talvez fosse uma ajuda… por exemplo: se colocarmos uma criança desde novinha num coro e sempre estimularmos a criança para cantar, quando crescer essa criança será, com certeza, um jovem com talentos vocais bastante bons e desenvolvidos…a mesma lógica se aplica aos jovens: serão sempre influenciados pelo meio onde estão inseridos… se a sociedade lhes apresentar meios e métodos para desenvolverem a criatividade, o espírito critico (e claro, meios e métodos apelativos aos jovens) podemos esperar que haja mais interesse da sua parte… caso contrario, não podemos esperar que sejam os jovens que “mal conhecem o mundo” a desenvolverem-se sozinhos…

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  20. Anónimo disse...

    Tiago, o Olly acerta na Mouche. Concordo. Mas discordo do que tu dizes. "... das conjunções sociais que afectam os jovens e que os impedem de usar a criatividade e a iniciativa."

    Não, nada "impede" os jovem de coisa nenhuma. Fazer depender a iniciativa dos jovens (ou a falta dela) de uma espécie de "licença" da sociedade, não é correcto. Os jovens que temos não podem debitar (apenas) à sociedade as suas frustrações ou a sua incapacidade disto ou daquilo. Os jovens não tem que estar á espera do que a sociedade lhes ensine ou deixe de ensinar.
    Repito o que já tinha dito antes: os jovens também SÃO SOCIEDADE. Não existem fora dela.

    Maura

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