quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ser ateu não é ser contra a Igreja

Este texto já não é recente, foi publicado aquando da visita de Bento XVI a Portugal mas o seu conteúdos é sempre actual e merece ser discutido no seio dos grupos de jovens. Será que ser ateu significa ser contra tudo o que a Igreja representa?
Deixo-vos com um texto de Ricardo Martins Pereira:

Não me lembro de alguma vez ter acreditado em Deus. Nem em miúdo, nem em momentos de fraqueza ou necessidade. Sempre acreditei nos homens e nas mulheres, sempre achei que cada um é responsável pelo seu destino. Ainda assim, acho que a igreja faz falta, acho que o cristianismo faz bem ao mundo e a quem acredita. Gosto da mensagem de paz, gosto da mensagem de amor, gosto que haja alguém com peso que defenda a necessidade de perdoar, a tolerância, a bondade. Os valores católicos são bons e se fossem, efectivamente, praticados por todos os que se dizem católicos, o mundo seria seguramente melhor. O problema da Igreja é que já poucos fazem o que o Papa ordena. O mundo actual é o do cada um por si. Não há tempo para rezar, para ser tolerante, para perdoar. As vidas de hoje são vidas a 200 à hora, as prioridades de hoje são as de manter o emprego, sustentar a família, pagar as prestações. A Igreja é cada vez menos um porto de abrigo, pelo menos nos grandes centros urbanos. E é pena. Quem não acredita, quem não tem fé, prefere quase sempre falar da hipocrisia da Igreja, da pedofilia, do preservativo, dos luxos. Gente boa e gente má existe em todo o lado. Eu não tenho fé em Deus, mas tenho fé de que na igreja ainda há menos gente má do que nos outros sítios. E se há coisa de que este mundo precisa é de gente boa.

Fico à espera dos vossos comentários.
Maurício Guevara

10 comentários:

  1. Eu acho que uma coisa é ser contra a Igreja e outra coisa é ser ateu. Acontece que estes têm bastante em comum e daí que seja fácil que pessoas partilhem ambos os "cargos", sem que isso seja obrigatório, no entanto.

    Não acho que os ateus estejam errados. Tem a ver com a nossa civilização a noção de certo e errado e que tudo tem de estar ou certo, ou errado. Acho que há coisas que não tem de estar certas ou erradas.

    Particularmente, acho que qualquer religião é um caminho e também o pode ser o ateísmo. Por isso gosto tanto de ouvir ateus ou agnósticos falar, e falar mal do cristianismo e da Igreja. São esses que mais me ensinam como devo ser um bom cristão. Diria mais, um dos maiores erros da Igreja como instituição foi o de se fechar na ideia de que atingira já a verdade e deixar de dar ouvidos ao resto.

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  2. Eu já tinha lido este texto, por intermédio da minha catequista.
    Penso que realmente a Igreja é vista pela sociedade em geral como uma boa instituição, que ajuda as pessoas necessitadas, mas muitas vezes as críticas que a ela são feitas, são baseadas no passado, sem qualquer fundamento ou ligação com a actualidade, afinal a nossa Igreja é mais do que isso. No entanto, são algumas das críticas exteriores à Igreja que acabam por proporcionar uma evolução e correcção no seu modo de actuar, o que é positivo.

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  3. As críticas dos ateus não ensinam nada, pois o verbo ensinar segundo a sua etimologia significa "dar uma orientação sobre o rumo ou o caminho a seguir". Mas uma coisa si é certa, a crítica dos ateus deveria incentivar-nos a procurar com seriedade os sinais do Mistério de Deus presente na minha vida e no mundo para assim dar razões profundas da nossa fé. Concordo que por vezes há alguns membros da Igreja que pensam serem portadores de uma "verdade adquirida" e por isso não é preciso ouvir mais ninguém. Todos nós muitas vezes confundimos a nossa pequena e fraca verdade com AQUELE que é a VERDADE, O CAMINHO E A VIDA. Quantas vezes fazemos dizer a Deus coisas que são puro reflexo da nossa "ideia" que temos de Deus? O cristão é anunciador da Boa Noticia, só quando começa a incarnar a VERDADE ou CRISTO, na sua própria vida. Caso contrário não estaremos muito longe dos ateus "falando sempre DE Deus seja da sua existência ou da não existência". O verdadeiro Cristão "Fala COM Deus", EXPERIÊNCIA bela e profunda que lamentavelmente um ateu nunca poderá dizer coisa alguma.
    Obrigado Tiago pelas tuas achegas sempre pertinentes!
    Pe. mauricio imc

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  4. Eu tinha 16 anos quando ouvi pela primeira vez da boca de um colega de escola "Eu sou ateu, graças a Deus!" Achei logo isso muito estranho e comecei a questioná-lo do seu ateísmo. Destas conversas sugeriram também muitas preguntas da parte dele sobre a minha religião e a minha fé.
    Na verdade foram essas conversas que tinha com o gabriel que me fizeram querer saber mais e mais da minha religião para poder responder com coerencia e saber a razão das coisas.
    Muitas vezes o querer responder ás criticas que nos fazem leva-nos a estudar cada vez mais para sabermos responder com convicção.
    Por isso essas pessoas muitas vezes não nos ensinam mas levam-nos a estudar e a aprofundar a nossa fé.
    Só espero que todos os jovens tenham o cuidado de estudar e desenvolver a sua fé a fim de poderem responder mais firmemente aos ateus, aos criticos e mesmo á e falta de valores que assola o mundo.

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  5. Não concordo que as críticas dos ateus não ensinem nada. Mesmo tendo em conta essa definição etimológica de orientação sobre o rumo ou caminho a seguir. Acho que os ateus também podem ter o seu próprio rumo e o seu próprio caminho e por isso, dá-lo a conhecer aos outros. E quando confrontamos o nosso próprio caminho com o deles, tenho a impressão que temos imenso a aprender com as suas experiências e com a caminhada que fazem.

    Obviamente que uma boa parte das críticas é infundamentada e apenas um fim em si mesmo, e essas realmente, não mostram caminho nenhum, mas infelizmente, não são um exclusivo dos ateus nem de qualquer grupo.

    Acho que Cristo ao declarar-se como caminho, não se estava a chamar a si próprio como estrada mas algo mais como o próprio acto de caminhar. Daí que Deus não deva ser para um Cristão um ser longínquo e externo a nós como uma estrada mas ser antes a nossa própria vida naquilo que ela é: uma caminhada.

    Outra coisa é, se Deus é amor, será que acreditar no amor é suficiente para acreditar em Deus? Será que o ateísmo não é apenas uma resposta a uma ideia pré-concebida de Deus (quase ao nível da física) e que fecha completamente qualquer outra caminhada que se faça? Esta pergunta é equivalente a perguntar se acreditar em Deus implica concordar com o Papa...

    Como o Padre Anselmo Borges perguntava há algum tempo numa das suas crónicas do DN, quantos de nós, Cristãos, são realmente Cristãos? E aqui está a minha resposta para a pergunta e para a questão dos ateus, e porque acho que eles têm muito para nos ensinar:

    Há muitos Ateus que são mais Cristãos até do que eu próprio, não tenho dúvidas disso...

    Acho que Karl Rahner concordaria comigo...

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  6. obrigado padre Mauricio pela sua grande iluminação sobre o tema. Deu-me verdadeiramente outra perspectiva do tema.
    Carlos A.

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  7. Nem sei como começar... mas as palvras do texto me parecem tao proximas das de um cristão consciente da realidade Igreja... Afirma -se ateu mas tece consideraçoes bem pertinentes sobre o ser Igreja . Nao se negue âquele que se afirma ateu a impossibilidade de reflectir sobre uma realidade de séculos, instituída num gesto de Amor profundo. Diz a Igreja fazer bem ao mundo, fazer falta, e isso é deveras gratificante por vir de alguem que se pensa afastado do Mistério do encontro com Deus. Traça em largos traços , é certo, um retrato da relaçao Igreja / cristão/ sociedadee denuncia uma evidência que irge contrariar - a distancia de Cristo na vida daquele que se afirma cristão, a ausência da transfiguraçao, o encolher dos ombros e a desistência, a fraqueza e a nao ousadia de colocar o Cristo vivo no centro da vida.
    Ser um ateu a reflectir sobre ...nao me afecta....
    O que me afecta é o ser cristão que cada um deve ser , envolvido no misterio de um Amor tao profundo e tão presente .

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  8. Lembrei-me de outra forma de utilizar a analogia do caminho: acho que Jesus apresentou-se como um caminho mas os Cristãos acabaram demasiado tempo parados a louvar o caminho, em vez de caminharem.

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  9. O ateu é aquele que não acredita na existência de Deus. Isto é independente do seu espírito humanitário. O bem pode ser feito tanto por crentes como não crentes. O tema em causa é Deus, não a capacidade de solidariedade dos seres humanos. Portanto duvido que um ateu possa ensinar-me ou indicar-me as vias para eu chegar a conhecer e experimentar ao Deus que ele não conhece. Ninguém pode dar aquilo que não tem. Pe. Maurício muito obrigado pelas suas palavras simples e sábias.
    R.Santos

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  10. Se nós acreditamos que Deus existe e temos a consciência que existe mesmo, então existe também para os ateus. Acreditem eles ou não. Assim, se partirmos da ideia que ele existe, a crença ou não nele não indica a falta ou não de presença dele na nossa vida. E se existe, mesmo que acreditemos que só existe dentro de quem o acolhe, ele interfere na vida do ateu todos os dias, sempre que este contacta com um crente.

    Achando eu que Deus existe, tenho duas opções para classificar os ateus: não acreditam porque não querem, e são demasiado casmurros e arrogantes para acreditar; ou, simplesmente, não o encontraram, e quem tinha a missão de lho anunciar devidamente, não o fez.

    Acho assim que um ateu pode fazer a sua própria experiência de Deus, porque acredito que Deus existe para lá da crença do individuo. Acredito também que esse individuo, por circunstâncias às quais é quase completamente alheio, não as reconhece como experiências de Deus. E não as reconhece porque, por exemplo, tem uma imagem distorcida de Deus que foi a que lhe inculcaram desde criança. S. Paulo, se não me engano, dizia que a fé era transmitida por palavras (algo deste género) o que possibilita que ela seja mal transmitida quando quem as utiliza são simples seres humanos, mesmo animados pelo espírito santo.

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