Olá amigos!
É uma surpresa para mim estar a escrever em português, nunca imaginei escrever nesta língua tão bonita! Um dia recebi um email do Pe. Albino a pedir um testemunho para vocês, jovens portugueses. Meu coração se alegrou mas a minha preocupação foi: e a língua?
A minha vocação
Quero, então, partilhar convosco a minha ainda curta experiência de missão aqui, no Brasil. Peço-vos que entendam que, como estou aqui faz pouco tempo, ainda não conheço bem o Brasil, depois, meu testemunho é dado do ponto de vista de um coreano que observa e gosta do que vê.
Antes de falar acerca do que seja, deixem-me falar-vos da minha vocação:
Conheci a Consolata na Coreia do Sul, onde os missionários da Consolata moram e trabalham atualmente. Imaginem uma comunidade formada apenas por estrangeiros (de 7 ou 8 países diferentes) e que, ainda por cima, não falavam o coreano. Mas, graças a Deus, todos se entendiam. Este foi, para mim, o melhor exemplo do que é ser missionário e deixou-me a pensar: Cada um deles veio de um lugar diferente, cultura e língua diferente, tinham caraterísticas diferentes... Mas chegaram cá, viviam juntos, comiam a nossa comida (muito picante) e aprendiam a nossa língua. Era um exemplo maravilhoso. Foi com este exemplo que decidi entrar para o seminário da Consolata.
Foram 12 anos de formação na Coreia (filosofia) e em Itália (teologia) até que, no dia 8 de Outubro de 2009, fui ordenado sacerdote missionário. No dia 12 de Dezembro cheguei aqui, no Brasil. Tive 3 meses apenas para aprender o português (em Brasília) e fui destinado a trabalhar no sertão, em Jaguarari (que quer dizer pequeno urso), na Bahia. Mas vamos ao que interessa, o nosso trabalho aqui no sertão:
A nossa comunidade é constituída por quatro missionários, um brasileiro, um português (o Pe. Domingos Forte), um etíope e eu, coreano. É o exemplo de missão e multiculturas que me atraiu para o seminário de novo em ação.
O nosso trabalho?
Senhor do Bonfim é o nome da nossa diocese; foi criada em 1933 e é um território muito grande, tem mais de 300kms de extensão. Infelizmente os padres são só 30 diocesanos e 6 missionários. Realmente faltam trabalhadores na vinha do Senhor! Nós, missionários da Consolata, temos quase 100 comunidades, organizadas em nove núcleos, cada um tem entre 9 a 15 comunidades. Cada dia visitamos essas comunidades, celebramos a Eucaristia, estamos com as famílias e promovemos a formação.
A minha grande dificuldade, podem imaginar, é a língua. Se um missionário domina a língua local, 70% do seu trabalho é facilitado. Por isso, estou a aprender a pouco e pouco com as pessoas que sempre me ajudam e abrem o coração para me fazer entender a cultura baiana. Nisso, o povo me está a evangelizar, porque a evangelização sempre começa pelo nosso coração aceitar a cultura local. A minha primeira missão é essa e faço-o sempre com o pensamento que estou trabalhando em nome de Jesus Cristo.
Aqui no nordeste existe uma mistura de espiritismo dentro da igreja, por isso o trabalho de formação na catequese é muito importante, por exemplo, quando tem missa comunitária muita gente não sabe como responder. No Domingo de Ramos, muita gente leva o ramo para casa e vai bebendo em chá, acreditando que ele é remédio, o mesmo acontece com a água benta, acreditam que é um remédio mágico. Quem conhece bem a história, diz que esta cultura do espiritualismo veio com a vinda dos escravos africanos e, com o tempo, se foi misturando com o cristianismo. Por todo o lado encontro exemplos de espiritualismo, o nosso trabalho passa por explicar as diferenças.
«Já vai embora?»
Durante meu trabalho de visitas à comunidade, no momento da partida, muitos me dizem “Já vai embora?” esta pergunta faz-me sentir em família, faz-me amar este povo que me abre a mente e meu coração.
A comunidade de Jaguarari tem um projeto de evangelização com outra comunidade, de Monte Santo (também da Consolata) que fica a 150kms da nossa. Como o nosso trabalho é de paróquia, por vezes se corre o risco de perder a identidade missionária; este projeto quer dar um carisma missionário ao nosso trabalho numa Bahía completamente abandonada pelo governo.
Para terminar, quero pedir a vocês para rezar por este povo e pelos missionários que trabalham com este maravilhoso povo baiano.
Pe. Pedro Han (IMC) / (Texto corrigido)
Obrigado, caro irmão missionário P. Pedro, pelo seu testemunho missionário.
ResponderEliminarSão muito boas estas narrativas que nos falam da Missão vivida no terreno.
E é muito bom, também, conhecer um pouco do seu percurso vocacional como Missionário da Consolata. Creio que pode tocar o coração de muitos jovens.
Abraço e continuação de uma Missão fecunda aí no sertão da Bahía.
Uma vez mais muito obrigado pelo texto.
p. Albino Brás
Muito interessante o testemunho deste jovem missionário. Gostei de conhecer o seu percurso vocacional.
ResponderEliminarTestemunhos assim fazem-em acreditar no valor da gratuidade, das diferenças entre as culturas e outros aspectos.
Desejo a continuação de uma boa missão para o Pe Pedro Han.
Fernando Freitas