quinta-feira, 3 de março de 2011

Questões do nosso tempo...

A Economia vai-se democratizando e cada vez mais é exposta ao escrutínio das pessoas. No entanto, dependemos ainda muito dela e necessitamos de entender melhor os seus segredos para entender também os problemas e as questões que nos surgem no campo social e político.
Há uma equação que nos ajuda a perceber bastante bem os problemas económicos que atravessamos actualmente.
Trata-se da equação do Produto Interno Bruto, visto pela ordem da despesa, ou seja, que soma todas as despesas da economia dando assim toda a produção já que, tudo o que se consome teve de ser produzido.

A equação relaciona assim o PIB (Y) com o consumo das famílias (C), com o Investimento das empresas (I), com os Gastos do Estado (G) e com as exportações líquidas (exportações menos importações, ou seja, Ex-Im).
Ficamos com Y = C + I + G + Ex – Im.
O primeiro ponto a ter em conta é que quase tudo actualmente depende da evolução do PIB. Se estamos em crise significa que o PIB está a diminuir ou pelo menos, a crescer pouco. O fraco crescimento do PIB significa aumento do desemprego, diminuição dos salários, mais pobreza e no fundo, menos bem-estar na sociedade.
Todo o debate actual tem que ver com a forma como se interligam as várias componentes do PIB. A crise começou por dificultar a vida aos bancos que estavam altamente expostos uns aos outros e em última medida, ao mercado hipotecário americano. Os bancos em crise viram-se com falta de dinheiro para emprestar à economia. Começa uma crise de confiança e assim, os bancos deixam de emprestar dinheiro entre si, ou fazem-no a taxas mais altas e começam a fazer o mesmo com os clientes, sejam estes empresas ou famílias. O efeito imediato disto é uma diminuição no consumo e no investimento. As famílias, com fracas poupanças um pouco por todo o Ocidente, vêem-se obrigadas a reduzir o seu consumo com vista a equilibrar os orçamentos familiares. As empresas, ao não encontrarem crédito barato também decidem adiar os seus projectos de investimento. De seguida, sabemos que a quebra no consumo vai diminuir a procura e assim, trazer mais dificuldades às empresas que não conseguem escoar os seus produtos. As empresas vêem-se cercadas por dois lados: menores vendas leva-as a procurar descer salários ou a procurar os despedimentos. Em casos extremos, a empresa entra em insolvência.
Uma crise como esta podia ter tido resultados ainda mais trágicos do que aqueles que está a ter se não tivessem sido usados meios para a combater, por parte das autoridades. Em primeiro lugar, os Bancos Centrais desceram as taxas de juro a que emprestam dinheiro aos bancos de forma a que estes conseguissem obter dinheiro mais barato e assim emprestá-lo entre si e aos agentes económicos a taxas de juro mais baixas. Foi isto que fez descer durante meses seguidos a EURIBOR que é apenas e só a taxa média a que os bancos emprestam dinheiro uns aos outros. Isto deu algum desafogo às empresas e consumidores porque permitiu, por exemplo, que um consumidor que estivesse a pagar prestações da casa visse essas prestações diminuir de volume e assim, conseguiu-se estimular minimamente o consumo e o investimento de forma a evitar uma crise mais profunda.
De seguida, os Estados tiveram uma participação ainda mais activa. Usando o membro da equação do PIB que controla directamente, o G.
À primeira vista é óbvio, o aumento do G permite equilibrar o valor do PIB de forma a minimizar ou impedir os efeitos nocivos da sua queda. Um exemplo de subida nos Gastos do Estado é a atribuição do subsídio de desemprego que é um chamado, Estabilizador Automático, ou seja, uma queda no PIB, ao aumentar o número de desempregados, leva automaticamente a um aumento no valor dispendido pelo Estado em subsídio de desemprego. Outro exemplo é o TGV, que ao criar imensos postos de trabalho, ajuda a combater o desemprego e assim, a aumentar os níveis de consumo e investimento e a renovar a confiança na economia. É importante também referir o dinheiro gasto pelos Estados em auxílios directos à banca para evitar o seu colapso e maiores quebras de confiança no sector financeiro.
Acontece que de repente foi o Estado que deixou de ter dinheiro para financiar a economia vendo-se com problemas financeiros graves. As taxas de juro dos empréstimos ao Estado subiram em flecha o que impede o Estado de dar apoio à economia. Ressurgiu então a ideia mais antiga de deixar as forças do mercado funcionar, isto é, as empresas, em concorrência, vão descer os salários e despedir até ao nível de equílibrio que permitirá a estas reajustarem-se e corrigir os seus balanços. Após uma crise grave, atingir-se-á de novo um equílibrio que permitirá voltar a crescer.
Foi esse o caminho que se seguiu e segue actualmente na Europa. Os Estados vão impondo medidas de austeridade esforçando-se por reduzir os seus gastos e sabendo que elas levarão a uma queda acentuada do PIB. No entanto, espera-se que as forças do mercado voltem a encontrar os salários, preços e nível de emprego de equilíbrio que permita que se volte ao crescimento económico.
Para tornar esse processo menos doloroso, espera-se que as exportações dêem uma ajuda fazendo aumentar o PIB e aumentando o nível de emprego e por essa via, o consumo e investimento. No entanto com a grande generalidade dos países e, principalmente os nossos principais parceiros comerciais, também em crise e a seguir as mesmas políticas restritivas, é duvidosa a ajuda que as exportações possam dar para a resolução da crise.
É isso que apontam muitos economistas, entre os quais alguns Prémio Nobel como Paul Krugman ou Joseph Stiglitz, embora essa opinião seja largamente silenciada em Portugal. Segundo estes, a austeridade é um caminho sem fim já que, quando praticada em simultâneo por vários países, para além de ser dolorosa, torna-se um beco sem saída.
A questão é que a descida dos salários, com vista ao aumento da competitividade internacional, é facilmente imitada pelos países concorrentes. Aliás, concorrer com salários de países como a China ou a Índia é absolutamente impensável. Mas com todos os países a fazer o mesmo, é o consumo que é afectado e são, dessa forma, as importações que são afectadas. Ora, nenhum país exporta se outro país não importar. O resultado é uma espiral negativa em que mais descidas de salários levam a menor consumo e menores importações, que obrigam a menores preços, que obrigam a menores salários novamente, mais despedimentos, e assim por diante.
A resposta que estes economistas apresentam é a da importância de um auxílio massivo por parte dos Estados às economias. Com as restrições orçamentais que muitos Estados enfrentam, torna-se óbvio que este auxílio só seria eficaz se todos os Estados (por exemplo, da UE) conseguissem fazer esse programa em conjunto. Um programa desse tipo seria constituído, por exemplo, por forte crescimento nas obras públicas ou então, por um novo campo que vai sendo discutido também, que é o do chamado New Deal Verde, ou seja, o dispêndio massivo de dinheiro por parte dos Estados em equipamentos e investigação relacionados com a protecção do ambiente e energias alternativas.
Há que ter em conta que apenas com os fortes gastos efectuados pelos EUA em armamento àquando da Segunda Guerra-Mundial é que foi possível sair-se da Grande Depressão. Como diz Paul Krugman, agora podíamos experimentar a gastar o dinheiro em “coisas úteis”.
No entanto, os diferentes Estados e a UE continuam a não aceitar esta via por uma série de razões. Algumas ideológicas já que, um aumento da presença do Estado nas economias é visto como uma limitação à liberdade. Em segundo, implicava a deslocação de enormes fundos entre países, algo que pode não ser bem aceite pelos eleitores. Em terceiro lugar, podia-se decidir tão só imprimir mais dinheiro e fazê-lo fluir pela economia o que, crêem muitos economistas, pode criar elevados níveis de inflação. Por último, surge também o chamado risco moral, ou seja, os Estados apoiados poderão não ter incentivos para “bom comportamento” no futuro se virem que estão seguros pelos seus parceiros.
As respostas a estas questões só vão ser conhecidas dentro de algum tempo, talvez anos. Até lá talvez seja boa ideia um melhor escrutínio das razões que levam cada opinador e cada decisor político a defender o que defendem. Porque se grande parte do problema está fundada em conversa técnica incompreensível para a maioria das pessoas, tudo no fim se funda em ideias que nos afectam todos os dias e para as quais podemos e devemos ter uma opinião fundamentada.
Tiago Santos

8 comentários:

  1. Por uns momentos fiquei baralhada.
    O que é que este texto tem a ver com o cjovem???
    Se eu venho aqui é para ver outro tipo de reflexões
    Para ler testamentos sobre economia tenho o diário económico.

    Madalena Fragoso

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  2. É verdade, não faz muito sentido. :(

    É um bom texto, não posso dizer que não, mas não o estou a conseguir 'encaixar' no contexto neste blogue...

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  3. "O que é que este texto tem a ver com o cjovem?"

    Na verdade, nada...

    Se o cjovem for um espaço apenas para divagação vazia...

    Mas como eu sei que o cjovem é um espaço de IDEIAS, INFORMAÇÃO e ACÇÃO... Então este texto tem a sim a ver com o cjovem.

    Se queremos um mundo melhor temos de o compreender.. e para o comprender temos de saber um bocadinho de tudo...

    Nao leio o diario economico, e na verdade nao percebo nada de economia, mas fico contente por ver aqui textos que nos falem deste tipo de coisas que toda a gente fala e na realidade poucos percebem...

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  4. Nem aqui me livro de economia?

    Para ler testamentos sobre economia tenho o diário económico.
    CONCORDO A 100%

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  5. caro anonimo...

    se precebe o que esta no diario economico ainda bem...

    eu nao percebo.. portanto ainda bem que esta aqui o texto que é uma forma simples de entender...

    mas qualquer um pode ler apenas os posts que lhe interessam...

    nao se consegue agradar a gregos e a troianos...

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  6. 100% de acordo com a Liliana...

    Que me lembre, o Cjovem é um espaço aberto a todos a todas as temáticas e fico muito feliz de cá encontrar um tema tão actual, que faz parte do nosso quotidiano, mas que eu (e tal como eu, muitas outras pessoas) percebo tão pouco.

    E como diz a Lili, "qualquer um pode ler apenas os posts que lhe interessam..."

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  7. A economia é parte integrante da vida de todos nós, é parte integrante da sociedade!!
    Todos nós no nosso dia-a-dia gerimos a nossa economia pessoal e familiar!
    Será assim tão descabido falar de economia no Cjovem? Não claro que não!!
    Quando o Cjovem fala de campanhas de solidariedade, dos projectos do I.M.C, quando denuncia algumas injustiças sociais, etc, está implicitamente a falar de economia!

    Até as primeiras comunidades Cristãs tinham a sua organização económica!!!!

    Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. ""Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.""
    Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação. (Ac 12, 42-47)

    Força Tiago

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  8. Eu não entendo em que mundo vivem as pessoas que dizem coisas, sem ofensa aqui, que falar de economia não é uma questao pertinente nesta pagina. Quando nos dias de hoje é ANALFABETO qualquer um que nao a entenda! É QUADRADO qualquer um que não procure saber o que se passa na sua propria realidade mais nao seja para se ajudar a SI MESMO ou ao PRÓXIMO como tanto gostam de falar. Rezar avé- marias não resolve tudo.

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