domingo, 22 de julho de 2012

Grupos de Jovens e Missão na Europa (Parte II)


Começo com uma pergunta: os jovens afastam-se da Igreja ou é a Igreja que afasta os jovens?

Esta pergunta leva-nos para uma outra que serve para medir o êxito dos grupos de jovens da Igreja. Estes grupos estão a conseguir atrair os jovens ou estão a falhar nesse propósito? Se por um lado podemos responder negativamente afirmando que nunca os jovens estiveram tão afastados da Igreja, também podemos estar certos de que estes grupos trabalham de forma afincada nesta sua missão conseguindo por vezes resultados interessantes. Mas é na própria formulação desta segunda pergunta que reside aquilo que precisa de ser discutido. Surge a terceira pergunta: para que servem os grupos de jovens? Para responder de forma satisfatória a esta pergunta tenho ainda de responder a uma outra: o que são os jovens?

É comum os jovens serem apresentados como o futuro de uma sociedade. São-no efetivamente mas são mais que isso. Enquanto jovens, são também o presente da sociedade e não meramente o seu futuro. Sendo o presente, a eles deve ser pedida uma atuação de presente para além daquela que valoriza simplesmente o seu percurso de crescimento pessoal, em jeito de preparação para uma vida adulta.


Enquanto há décadas atrás, havia um salto muito rápido da idade infantil para a idade adulta, atualmente, tal evolução é feita de forma muito lenta. A entrada no mundo do trabalho é feita, cada vez mais, para lá dos 20, o casamento para lá dos 30, e entre a infância e a idade adulta surge um espaço que dá origem a hábitos, símbolos, representações sociais mais ou menos complexas, mais ou menos estruturadas, mas com especificidades. Os jovens não são, nem crianças mais velhas nem adultos mais novos.

Desta forma, o objetivo dos grupos de jovens não pode ser meramente o de atrair jovens (futuros adultos) para a Igreja. Os jovens não podem imiscuir-se da sociedade enquanto agentes reais e atuais que são. Então, os jovens devem ser parte ativa da missão europeia que falo na primeira parte deste artigo e não uma mera força de recrutamento.

Socorro-me de algo dito pelo nosso Superior Provincial, Pe. António Fernandes:
“Os critérios passam por arriscar, com confiança e sem medos, em novas formas de evangelizar, em ser um bom comunicador, estudioso e conhecedor do mundo atual. «Há que reinventar o papel do missionário e fazer com que possa transmitir sinais de esperança, sinais de vida, sinais que ajudem a construir novas relações e mostrar que outro mundo é possível»”

Troquemos a palavra “missionário” por “Grupos de Jovens” e teremos aquilo que penso dever ser o papel dos jovens neste cenário de missão.

No fundo, podemos resumir dizendo que os jovens devem exigir fazer parte desta transformação com vista a um outro mundo melhor. Para tal, é preciso conhecer de forma profunda o mundo e, de seguida, ir ao encontro das pessoas e dos seus reais problemas. Os jovens devem ser expoentes de criatividade e inteligência na procura de soluções para os problemas que afetam a sua sociedade.

De forma mais específica, um novo grupo de jovens deveria em primeiro lugar procurar formas criativas de promover o conhecimento. Por exemplo, criação de bibliotecas e/ou grupos de partilha de livros e leituras; criação de meios de partilha de ideias como blogues, tertúlias, revistas, organização de debates e conferências, etc…; interesse pela cultura e pela história; interesse pela arte como forma de estímulo ao conhecimento e à criatividade, entre outros.

De seguida, todo o trabalho de busca de conhecimento necessitaria de um resultado prático. Poderiam surgir projetos específicos com foco no voluntariado, no apoio aos mais pobres, na pressão mediática, na procura de soluções junto das autoridades competentes, divulgação de ideias, estabelecimento de parcerias, etc…

Tudo isto implica uma reconfiguração daquilo que é normalmente efetuado num grupo de jovens. Estes grupos devem abrir-se à sociedade efetuando mais sessões de esclarecimento, mais debates, mais colóquios, participar no Fórum Social Mundial e nas Jornadas Mundiais da Juventude, sem que nenhuma destas coisas impeça a existência da outra. Desta forma, devem também unir-se a outros grupos não religiosos e abrir-se a outras vivências da religião, criando pontes, estabelecendo pontos em comum. Devem ir às escolas, com o objetivo de evangelizar mas também de alertar para os problemas da sociedade e do mundo. Mais do que procurar ter muita gente a aderir ao grupo, deve procurar ter muita gente a trabalhar na transformação do mundo. Esse seria o seu verdadeiro êxito.

Para tal ser possível, estes novos grupos precisam de mais autonomia, precisam de poder decidir colegialmente qual o seu caminho e quais os pontos a que dão mais importância, aquilo que querem conhecer, aquilo que querem debater e aquilo que querem concretizar.

Desta forma, a sociedade poderia contar com mais um tipo de movimento social útil e transformador, capaz de apresentar ideias e soluções e capaz de fazer a ponte entre a fé e a realidade íntima das pessoas. Porque se a realidade estiver desprovida de fé, é tenebrosa, como podemos ver atualmente. Mas se a fé for desprovida da realidade, é estéril. Por isso necessitamos de novos grupos de jovens…

Tiago Santos, jmc

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