terça-feira, 17 de novembro de 2009

O bosque

Há já alguns anos tive um vizinho, médico de profissão, que tinha, como hobby, plantar árvores no terreno que tinha por detrás de casa. Foram várias as vezes que dei por mim a observá-lo enquanto as plantava.

Havia, porém, um facto que me chamava a atenção, nunca o vira a regar os rebentos que plantava. Passado algum tempo notei que as suas árvores tardavam em crescer.

Certo dia decidi perguntar-lhe porque não as regava nunca; com ar de satisfação explicou-me a sua teoria.
Disse-me que, regando as árvores, as suas raízes acomodar-se-iam à superfície e acostumar-se-iam à água fácil, que viria de cima. Ao não regar as árvores, demorariam a crescer mas as suas raízes penetrariam terra adentro em busca de água e de nutrientes que se encontram nas profundezas da terra. Desta forma ficariam com as suas raízes profundas, crescendo fortes e resistentes às intempéries.
Acrescentou ainda que, frequentemente, lhes dava umas “palmadinhas” com um jornal para que se mantivessem sempre “despertas e atentas”. Não nos voltámos a encontrar.

Fui viver para outro país e, vários anos mais tarde, de regresso a Portugal, decidi matar saudades da minha antiga casa. Ao aproximar-me descobri um bosque que não existia então. O meu antigo vizinho tinha realizado o seu sonho!
Naquele dia soprava um vento forte e gelado, próprio de inverno. As árvores da rua arqueavam-se sob a força do vento, parecendo mesmo não conseguirem suportar os rigores do inverno. Ao aproximar-me do terreno do meu vizinho, notei que as suas árvores estavam firmes, quase não se movendo sob a força do vento que teimava em aumentar a sua intensidade.
Curioso! - pensei – As adversidades pelas quais aquelas árvores tinham passado, privadas de água e recebendo as “palmadinhas”, parecia que as tinha beneficiado de tal forma que o conforto e tratamento cuidadoso jamais teriam conseguido.

Todas as noites, antes de dormir, encosto-me ao umbral da porta do quarto dos meus filhos vendo-os dormir, vejo como dormem, como crescem; rezo frequentemente por eles. A maioria das vezes, lembro-me, pedia para que as suas vidas fossem fáceis, para que não sofressem as dificuldades e agressões deste mundo… Dei-me, porém, conta que tinha de mudar as minhas petições.
É inevitável que os ventos gelados e fortes nos acossem. Sei que vão encontrar incontáveis dificuldades e que, portanto, os meus desejos de que as dificuldades não aconteçam, eram muito ingénuos. Haverá sempre alguma tempestade em algum momento das nossas vidas, a vida não é fácil.

A partir de agora, rezarei para que os meus filhos possam crescer com “raízes profundas”, de tal forma que possam extrair energia das melhores fontes, das mais divinas, aquelas que se encontram sempre nos lugares mais profundos.


Autor Desconhecido

2 comentários:

  1. Se a vida fosse fácil e se conseguissemos tudo de mão beijada, não davamos valor que damos a certas coisas, as coisas que nos custou mais a ter!!!
    Isto é como um teste. Se num teste tivermos 100%, no proximo ja não vamos estudar tanto, mas se tivermos so 99.5% no próximo teste vamos ainda estudar mais para não cometermos o erro que fizemos e para tentar alcançar a nota total!
    É assim, também atraves das dificuldades que construimos os nosso EU, a nossa personalidade, o nosso querer!

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  2. Realmente, se toda família entendesse o valor destes obstáculos a vida hoje seria mais fácil de ser entendida e vivida e nao teríamos tanta violência no mundo como encontramos hoje em dia. Sempre, a todo momento, Deus nos dá todo o ensinamento possível para entendermos a vida e assim vivê-la como ele sempre desejou a todos os seus filhos, nós é que complicamos o nosso entender e nossas vidas. Que Ele nos ajude sempre a encontrar o caminho certo.

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