quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma Fábula Moderna

A velha fábula da galinha ganhou uma adaptação para a época actual. Pesquei-a numa daquelas mensagens que circulam na Internet.  Desconheço o autor. Mas, seja quem for, sobra-lhe criatividade. Não resisti a partilhá-la com os leitores do CJovem. Conclusões? Cada um tire as suas... 
Albino Brás




A GALINHA, O PÃO, OS SUBSÍDIOS, OS OPORTUNISTAS...

Uma galinha achou alguns grãos de trigo e disse aos vizinhos:
“Se semearmos este trigo, teremos pão para comer. Alguém me quer ajudar a semeá-lo?”
“Eu não, estás parva!” - disse a vaca.
“Nem eu, tenho mais que fazer!” - emendou o pato.
“Eu também não” - retorquiu o porco.
“Eu muito menos” - completou o bode.
“Então, eu mesma planto”, disse a galinha. E assim o fez.
 O trigo cresceu alto e amadureceu, com grãos dourados.
“Quem me vai ajudar a colher o trigo?” - quis saber a galinha.
“Eu não, já tenho o rendimento mínimo garantido” - disse o pato.
“Não faz parte das minhas funções. Só se pagares algum sem recibo” - disse o porco.
“Não, depois de tantos anos de serviço”, - exclamou a vaca.
“Eu arriscava-me a perder o fundo de desemprego” - disse o bode.
“Então, eu mesma colho” - disse a galinha, e colheu o trigo, ela própria.

Finalmente, chegara a hora de amassar o pão.
“Quem me vai ajudar a cozer o pão?” - indagou a galinha.
“Eu fugi da escola e não aprendi essas coisas! Ganho bem com a passa!” - disse o porco.
“Eu não posso pôr em risco o meu subsídio de doença” - continuou o pato.
“Caso seja sozinho a ajudar, é discriminação” - resmungou o bode.
“Só se me pagarem horas extra” - exclamou a vaca.
“Então, eu mesma faço” - exclamou a pequena galinha. Cozeu cinco pães e pô-los a todos numa cesta para que os vizinhos pudessem ver.

De repente, toda a gente passou a querer pão, e pediu um bocado. A galinha disse simplesmente:
“Não! Vou comer os cinco pães sozinha”.
“Lucros excessivos, sua agiota!” - gritou a vaca.
“Sanguessuga capitalista!” - exclamou o pato.
“Eu exijo direitos iguais!” - bradou o bode.
O porco grunhiu: - A Paz, o Pão, Educação, são para todos! Direitos do Povo!

Pintaram faixas e cartazes dizendo “Injustiça” e marcharam em protesto contra a galinha, gritando obscenidades, como as claques dos clubes de futebol.

Chamado um fiscal do governo, disse à pobre galinha: “Você, galinha, não pode ser assim tão egoísta. Você ganhou pão a mais, tem de pagar muito imposto”
“Mas eu ganhei esse pão com meu próprio trabalho e suor” - defendeu-se a galinha
Os outros não quiseram trabalhar! - Retorquiu sentida.
“Exactamente” - disse o funcionário do governo. “Essa é a vantagem da livre iniciativa.  Qualquer pessoa, numa empresa, pode ganhar o que quiser. Pode trabalhar ou não trabalhar. Mas, de acordo com a nossa moderna legislação, a mais adiantada do Mundo, os trabalhadores mais produtivos têm que dividir o produto do trabalho com os que não fazem nada”.
Além disso há as mais valias, o IRS, a ex- Sisa, o desconto para a CNP, o IRC, o aumento dos combustíveis, o imposto Automóvel, o selo do carro, o perdão aos clubes de futebol, que tem de ser pagos para garantir a nossa Saúde e a nossa Educação e a nossa Justiça!
Todas elas as melhores do Mundo!
E todos viveram felizes para sempre, inclusive a pequena galinha, que sorriu e cacarejou: “Eu estou grata”, “Eu estou grata”.

Mas os vizinhos, curiosos, ficaram sempre sem entender porque é que a galinha nunca mais voltou a fazer pão.

Nota: Esta fábula deveria ser distribuída e estudada em todas as escolas.

3 comentários:

  1. Até podia ter algum interesse se tivesse alguma mínima correspondência com alguma espécie de realidade alguma vez existente em algum lado do mundo...

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  2. Oh Tiago, parece que começas por esquecer o género literário que está na base deste texto. E já o título o diz: FÁBULA.
    Numa fábula as estórias são narradas usando os animais como protagonistas: mas que actuam como se tivessem sentimentos e atitudes de humanos, certo!
    Além disso, têm um objectivo muito concreto: tentam deixar, de forma didáctica, uma moral, um lastro de sabedoria para os humanos.
    Ora o que esta fábula pretende não é fazer um retrato da realidade, ou de uma determinada realidade, muito concreta ou específica. Por isso não te digo que não tenhas (alguma) razão quando reforças a ideia que o que aqui é dito não se dá em nenhum lugar do mundo. Pois não: isto não se pode aplicar 'ipsis verbis' à China, aos EUA, a Portugal, ao socialismo, ao capitalismo, ao neoliberalismo, a uma situação ou a uma circunstância politico económica e politica muito concreta.
    Mas eu tenho comigo que: se isto não é a realidade em nenhum lugar do mundo, aproxima-se dela. Ou melhor: isto não é a realidade como um todo, mas SÃO PEDAÇOS DA (NOSSA) REALIDADE QUOTIDIANA. Sobretudo quando se põem a nu as contradições e o vícios do sistema (em todos os seus aspectos e dimensões).

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  3. No entanto, as contradições que põe a nú são as mais pequenas, mínimas e sem significado. Que no entanto, grupos com grandes interesses tratam de propalar como se fosse regra nalgum lado.

    A fábula é toda ela uma ideologia e toda ela assenta em factos e princípios que nada tem que ver com a realidade.

    Primeiro lugar, e vamos falar de economia: a galinha tem a posse dos meios de produção ao mesmo tempo que é ela que produz. Isto não existe. No mundo real, a galinha encontrava os grãos de trigo e graças a isso contrataria logo trabalhadores assalariados para o semearem. Isto porque no mundo real, a grande generalidade das pessoas, se não trabalha, é porque não existe trabalho. A conversa fiada de que não querem é trabalhar não tem qualquer significado. Senão vejam, Portugal, até há 7 ou 8 anos atrás tinha das mais baixas taxas de desemprego dos países desenvolvidos e agora tem das mais altas e isto quando metade dos desempregados nem sequer recebem subsídio de desemprego. Acreditam mesmo que foi porque as pessoas de repente decidiram viver à custa de subsídios? Ou será que as variáveis económicas, por exemplo, o fraco crescimento da economia nos últimos anos não tiveram um papel crucial nisto?

    Continuando, pelo menos a vaca e o pato aceitavam a proposta da galinha. Mas atenção, a galinha iria fiscalizar. O trigo era dela, o risco era dela. Tem de se premiar o risco. E isto porque ela tem a sorte de possuir os meios de produção que os outros não possuem.

    No mundo real, os subsídios são muito pequenos e o subsídio de desemprego tem mais objectivos do que ajudar os pobrezinhos. Em primeiro lugar, serve como defesa para os trabalhadores que sem ele veriam os seus salários muito reduzidos. Ou seja, se reescrevermos esta fábula com a realidade de trabalhadores assalariados e empresários, vemos que a galinha, como empresário, obviamente queria que trabalhassem para ela a baixo salário. Algo que os trabalhadores tem todo o direito a rejeitar.

    Acontece a seguir outra coisa no mundo real que é: quando o pão está feito, paga-se o salário aos trabalhadores e o empresário fica com o lucro. Nalguns casos o empresário vai comprar mais trigo para ter mais pão para o ano, noutros, compra um Mercedes. Acontece que o trabalhador não fica com a totalidade do fruto do seu trabalho. A galinha, pelo simples facto de ter encontrado o trigo, ganhava o lucro sem ter de fazer nada, pela vantagem inicial que o trigo lhe conferia.

    Voltando mais acima, no fim as pessoas querem o pão. Logicamente que querem o pão, porque todas elas, num mundo real, trabalharam para que o pão pudesse ser feito. Foi com os seus impostos que se fizeram as estradas para que a galinha pudesse andar até às terras onde semeou o trigo. Foram os outros animais que nalgum momento da sua vida fabricaram as enxadas que permitem à galinha cavar a terra, foram eles que pagaram o estudo dos seus filhos que são médicos e tratam a galinha quando ela tem gripe das aves.

    Por isso é que vem o fiscal do governo. Os impostos tem uma utilidade e sem eles não tinhamos nem educação, nem saúde nem estradas nem nada que se pareça.

    O texto serve uma agenda. A daqueles que acham que a pobreza e a exclusão são culpa dos próprios pobres e excluídos.

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